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E, abaixando a voz e chegando-se mais para o moço, disse, com o mistério de quem<br />
faz uma revelação terrível: — E, principalmente, meu amigo, não se meta a<br />
escrevinhador.<br />
Teobaldo ergueu a cabeça, surpreso:<br />
— Como<br />
— Sim, confirmou o outro. — Não se meta a escrevinhador, que isso tem<br />
posto muita gente a perder! Poderia citar-lhe mais de cem nomes de estudantes, de<br />
quem fui correspondente, que perderam anos, que cortaram a carreira por causa da<br />
maldita patifaria das letras! Eu os vi, a todos, por aí, enchendo as ruas de pernas,<br />
mal alimentados, e mal vestidos, com a mesada suspensa pela família, a fazerem<br />
garbo das suas necessidades e às vezes até das suas bebedeiras!<br />
Teobaldo ouvia agora o negociante com singular atenção.<br />
— Fuja! Continuava aquele: fuja de semelhante porcaria! Se não quiser ver o<br />
seu nome todos os dias na boca do mundo!<br />
— O nome<br />
— Sim, sim, o nome, que seu pai lhe pôs à pia do batismo! Se não quiser vêlo<br />
de boca em boca não se meta a escrevinhador! E ainda se fosse apenas isso...<br />
Vá! É feio, mas enfim, sempre há homens sérios, cujo nome o público não ignora; o<br />
pior é que às vezes rebenta por aí cada descompostura, que é mesmo uma<br />
vergonha! Quem se deixa cair em tal desgraça não está livre das chufas da<br />
imprensa e dos comentários do mundo inteiro!<br />
E o Sampaio, para melhor firmar os seus argumentos, principiou a citar<br />
nomes.<br />
— Mas esses nomes — Acudiu Teobaldo recorrendo às leituras que fizera<br />
na província — Esses nomes são todos muito distintos. O senhor está citando os<br />
nossos poetas mais conhecidos!<br />
— Ah! Ninguém nega que não sejam conhecidos, nem que não sejam<br />
poetas, mas posso afiançar-lhe que não são homens sérios.<br />
— Homens sérios... Que diabo entende o senhor por homem sério<br />
— Ora essa! Que entendo por homem sério — É boa! Por homem sério<br />
entendo todo aquele que não dá escândalos, que não é tratante e que se ocupa em<br />
alguma coisa séria! Enfim, todo aquele que trabalha! — Então quem escreve não<br />
trabalha<br />
— Não digo isso, mas...<br />
— Acabe.<br />
— Mas não é um trabalho sério!<br />
Teobaldo, em vez de prosseguir no diálogo, olhou para o Sampaio com um<br />
gesto que tanto podia ser de lástima como de repugnância, e, deixando escapar o<br />
seu predileto sorriso de ironia, ergueu-se, bateu-lhe levemente no ombro e disse:<br />
— O senhor é um grande homem!... Mas eu preciso descansar. Boa noite!<br />
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