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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

arrojara a um canto do quarto, por detrás de algum móvel. O <strong>Coruja</strong>, ao contrário,<br />

não punha os pés fora de casa, sem passar uma vista d’olhos por tudo, sem arrumar<br />

aquilo que estivesse desarrumado; e, às vezes, depois de estar na rua, ainda<br />

voltava para certificar-se de que havia fechado a janela da sua alcova ou a gaveta<br />

da sua secretária.<br />

Por este modo vivia a casa sempre no mesmo pé de limpeza e ordem.<br />

Um dia Teobaldo, entrando da rua, exclamou para o companheiro, que<br />

estudava à secretária, como era do seu costume:<br />

— Sabes, <strong>Coruja</strong> Decidi-me pela medicina!<br />

— Mas tu ainda ontem disseste que ias entrar para a Escola Central!<br />

— Mudei de intenção. O vida militar é incompatível comigo! Uma vida sem<br />

futuro e sem liberdade! Não quero!<br />

E, gritando pelo Sabino, estendeu as pernas, para que o moleque lhe<br />

sacasse as botas.<br />

— É verdade! Acrescentou; convidei hoje para jantar um rapaz que me foi<br />

apresentado ontem no teatro, o Aguiar, belo moço, que chegou há dias de Londres.<br />

— Ah!<br />

— E os teus negócios, caminham<br />

— Qual! Não obtive a cadeira que desejava no colégio do tal Madeiros, mas<br />

em compensação um amigo do Sampaio arranjou-me um lugar de conferente no<br />

Jornal.<br />

— Quanto vais ganhar<br />

— Trinta mil réis por mês.<br />

— Oh!<br />

— Antes isso do que nada...<br />

— Quantas horas de serviço<br />

— Das sete às onze da noite.<br />

— É horrível.<br />

— Prometeram-me arranjar também alguns explicandos de latim, francês e<br />

português.<br />

Teobaldo já não o ouvia, porque estava entretido a falar com a dona da<br />

casa, que ele acabava de descobrir no andar de baixo.<br />

— Temos então hoje um convidado Perguntou ela, depois do que lhe disse<br />

o rapaz.<br />

— É exato, um amigo. Pode acrescentar um talher à mesa; dos vinhos<br />

encarrego-me eu.<br />

D. Ernestina, assim se chamava a senhoria, era uma rapariga de vinte e<br />

poucos anos, cheia de corpo, muito bem disposta, mas um tanto misteriosa na sua<br />

vida íntima. Pelo jeito possuía alguma coisinha de seu e era mulher honesta.<br />

Viúva, casada ou solteira<br />

Viúva, podia ser; casada é que não, porque em tal caso não seria ela a<br />

senhora da casa e sim o marido. Solteira... Mas há tantos gêneros de mulher<br />

solteira...<br />

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