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fazer cara tão feia para chorar!... Se ela fosse jeitosa ao menos; mas não tem gosto<br />
para nada, não sabe pôr um vestido, não sabe por um chapéu; e, em vez de<br />
endireitar com o tempo, parece que vai ficando cada vez mais estúpida! Não!<br />
Definitivamente é uma mulher impossível, apesar de toda a sua dedicação!<br />
E, para se divertir, pôs-se a lembrar as asneiras dela. Ernestina não dizia<br />
nunca "eu fui", era "eu foi"; pronunciava pãos, razães, tostãos e gostava muito de<br />
preceder com um a certos verbos, como divertir, divulgar, reunir, retirar e outros;<br />
como também não pronunciava as letras soltas no meio da palavra. "Obstáculo" em<br />
sua boca era ostáculo, "obsta" era osta e assim por diante. E a respeito dos tempos<br />
do verbo Se ela queria dizer "entremos", dizia entramos e vice-versa; perguntava —<br />
"tu fostes — Tu fizestes" Uma calamidade!<br />
Além disso, ultimamente dera para engordar, por tal forma que parecia ainda<br />
mais baixa e mais desairosa.<br />
Não era feiazinha de rosto, isso não; mas em toda a sua fisionomia, como no<br />
resto, não se encontrava um só traço original, distinto, impressionável. Vestia-se,<br />
calçava-se e penteava-se como toda a gente, e só conversava a respeito de<br />
vulgaridades, sem ter nunca uma frase própria; rindo quando repetia uma pilhéria já<br />
muito estafada, e desconfiando sempre que lhe diziam qualquer coisa que ela não<br />
entendesse. Uma lesma!<br />
E Teobaldo a fazer estas considerações; e ela lá dentro a ressonar, agitada<br />
de vez em quando pelo sonho; ora gemendo, ora articulando palavras incompletas e<br />
destacadas.<br />
— O bonito será se ela adoece deveras aqui em casa!... Considerou ele. Era<br />
só o que faltava!<br />
E, notando que amanhecia, ergueu-se da mesa, lavou-se, mudou de roupa e<br />
tomou um cálice de conhaque. Já de chapéu e de bengala, ia a sair, quando<br />
Ernestina se remexeu na cama, depois assentou-se e perguntou com a voz muito<br />
quebrada e fraca:<br />
— És tu, Teobaldo<br />
— Que deseja interrogou ele secamente.<br />
— Não te recolhes<br />
— Não, porque me tomaram a cama.<br />
— Não sejas mau.<br />
— Ora!<br />
— Para que me tratas desse modo... Estou tão incomodada, tão doente...<br />
Se soubesses como tenho sofrido!...<br />
— Sofre por teima! A senhora podia perfeitamente estar em sua casa, feliz e<br />
tranqüila.<br />
— É exato; a culpa é minha. Que horas são<br />
— Amanhece.<br />
— Que Pois já se passou a noite inteira Ah! Agora me recordo que estive<br />
sem sentidos.<br />
— Adeus.<br />
— Vais sair<br />
— Vou.<br />
— Por que não te demoras um pouco Faze-me um bocado de companhia...<br />
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