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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

fazer cara tão feia para chorar!... Se ela fosse jeitosa ao menos; mas não tem gosto<br />

para nada, não sabe pôr um vestido, não sabe por um chapéu; e, em vez de<br />

endireitar com o tempo, parece que vai ficando cada vez mais estúpida! Não!<br />

Definitivamente é uma mulher impossível, apesar de toda a sua dedicação!<br />

E, para se divertir, pôs-se a lembrar as asneiras dela. Ernestina não dizia<br />

nunca "eu fui", era "eu foi"; pronunciava pãos, razães, tostãos e gostava muito de<br />

preceder com um a certos verbos, como divertir, divulgar, reunir, retirar e outros;<br />

como também não pronunciava as letras soltas no meio da palavra. "Obstáculo" em<br />

sua boca era ostáculo, "obsta" era osta e assim por diante. E a respeito dos tempos<br />

do verbo Se ela queria dizer "entremos", dizia entramos e vice-versa; perguntava —<br />

"tu fostes — Tu fizestes" Uma calamidade!<br />

Além disso, ultimamente dera para engordar, por tal forma que parecia ainda<br />

mais baixa e mais desairosa.<br />

Não era feiazinha de rosto, isso não; mas em toda a sua fisionomia, como no<br />

resto, não se encontrava um só traço original, distinto, impressionável. Vestia-se,<br />

calçava-se e penteava-se como toda a gente, e só conversava a respeito de<br />

vulgaridades, sem ter nunca uma frase própria; rindo quando repetia uma pilhéria já<br />

muito estafada, e desconfiando sempre que lhe diziam qualquer coisa que ela não<br />

entendesse. Uma lesma!<br />

E Teobaldo a fazer estas considerações; e ela lá dentro a ressonar, agitada<br />

de vez em quando pelo sonho; ora gemendo, ora articulando palavras incompletas e<br />

destacadas.<br />

— O bonito será se ela adoece deveras aqui em casa!... Considerou ele. Era<br />

só o que faltava!<br />

E, notando que amanhecia, ergueu-se da mesa, lavou-se, mudou de roupa e<br />

tomou um cálice de conhaque. Já de chapéu e de bengala, ia a sair, quando<br />

Ernestina se remexeu na cama, depois assentou-se e perguntou com a voz muito<br />

quebrada e fraca:<br />

— És tu, Teobaldo<br />

— Que deseja interrogou ele secamente.<br />

— Não te recolhes<br />

— Não, porque me tomaram a cama.<br />

— Não sejas mau.<br />

— Ora!<br />

— Para que me tratas desse modo... Estou tão incomodada, tão doente...<br />

Se soubesses como tenho sofrido!...<br />

— Sofre por teima! A senhora podia perfeitamente estar em sua casa, feliz e<br />

tranqüila.<br />

— É exato; a culpa é minha. Que horas são<br />

— Amanhece.<br />

— Que Pois já se passou a noite inteira Ah! Agora me recordo que estive<br />

sem sentidos.<br />

— Adeus.<br />

— Vais sair<br />

— Vou.<br />

— Por que não te demoras um pouco Faze-me um bocado de companhia...<br />

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