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— Bem. Previne ao Sabino que eu quero ir ver o Caetano.<br />
O criado, surpreso com estas palavras, mas sem o dar a perceber, afastouse<br />
imediatamente; ao passo que o amo, vestindo-se às pressas e, contra o seu<br />
costume, em desalinho, abandonou ainda uma vez o gabinete e ganhou em direitura<br />
ao quarto do enfermo.<br />
Não era, como ele próprio supunha na sua necessidade de fazer bem, o<br />
interesse pelo velho servo de seu avô e companheiro de seu pai o que o impelia<br />
àquele ato de piedade, mas simplesmente a urgência de falar com alguém que ainda<br />
o estimasse; alguém que lhe arrancasse o coração do lastimável estado em que se<br />
achava naquele instante.<br />
Recebeu um logro. O pobre velho não dava mais acordo de si e só dizia<br />
palavras desnorteadas pelo delírio da febre.<br />
— Não me reconheces, amigo velho Perguntou-lhe o conselheiro,<br />
amparando-se-lhe das mãos hirtas e nodosas.<br />
— Sim, Nho Miló Meta a espora no cavalo, que os Saquaremas, embicando<br />
por este lado, hão de encontrar homem pela proa!<br />
E os olhos do velho torciam-se nas órbitas com um aceso de cólera senil.<br />
— Sonha com meu pai e com as revoluções de Minas!... Pensou Teobaldo<br />
entristecido. Ah! O Barão do Palmar foi ao menos um homem! É justo que este<br />
desgraçado lhe dedique os seus últimos pensamentos em vez de os dedicar a mim,<br />
que nem isto mereço. É justo! É justo!<br />
E saiu dali para esconder o seu desespero contra aquele maldito velho, que,<br />
no delírio da morte, não achava uma palavra de consolação para lhe dar.<br />
Atravessou a chácara sem levantar a cabeça, o ar muito sombrio e pesado,<br />
os olhos fundos e cheios de sangue.<br />
Quando chegou à rua, estacou e pôs-se a olhar para as águas da baía que<br />
se douravam aos primeiros raios de sol.<br />
Pôs-se a andar pela praia, vagarosamente, quase que sem consciência do<br />
que fazia.<br />
E o dia, que apontava, um dia triste e cheio de névoas, um dia sem<br />
horizonte, como o próprio espírito de Teobaldo, ainda mais lhe agravava o mal-estar.<br />
Ele sentia frio e dores por todo o corpo.<br />
Caminhou assim durante uma hora; cabeça baixa, mãos nas algibeiras do<br />
sobretudo e uma secura enorme a lhe escaldar a garganta.<br />
Três vezes tentou fumar e de todas lançou fora o charuto, porque não podia<br />
suportar o cheiro do fumo.<br />
Afinal viu um carro de praça, chamou-o, meteu-se dentro dele e mandou<br />
tocar para a casa do <strong>Coruja</strong>.<br />
Todavia, depois mesmo de estar em caminho, hesitava em lá ir. O seu<br />
procedimento para com o pobre amigo não podia ser pior e mais ingrato do que fora,<br />
ultimamente.<br />
Nada fizera do que lhe prometera; não lhe dera o tal emprego, nem mandara<br />
publicar a célebre história do Brasil.<br />
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