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— É que ele vive lá preocupado com os seus negócios... Pensou o <strong>Coruja</strong>,<br />
para se consolar. Mas sentiu perfeitamente que no fundo azul do seu coração um<br />
principio de sombra se formava, como a nuvem negra que surge no horizonte,<br />
ameaçando logo a estender-se pelo céu inteiro e transformar-se em medonha<br />
tempestade.<br />
Perder a amizade de Teobaldo! Oh! De todas as suas desilusões seria essa<br />
com certeza a mais cruel e dolorosa!<br />
— Não! Não era possível!<br />
E André nem pensar queria em semelhante coisa. Defronte de tal hipótese o<br />
seu pensamento recuava aterrado, fugindo de todo e qualquer raciocínio.<br />
E no entanto, logo à primeira visita que ele fez ao amigo depois da mudança,<br />
ainda o encontrou mais frio e distraído.<br />
André ia pedir-lhe algum dinheiro e Teobaldo deixou muito claramente<br />
perceber a sua impaciência.<br />
— Sabes, filho, estou, que não imaginas, atrapalhado com uma infinidade de<br />
coisas! Agora não posso tratar disso. Aparece logo! Adeus.<br />
CAPÍTULO XXII<br />
Meses depois, quando as câmaras já se achavam fechadas e o ministério<br />
em crise, a rua do Ouvidor regurgitava de povo que vinha de todos os pontos da<br />
cidade saber as novidades políticas. Falava-se muito em dissolução das câmaras;<br />
falava-se em subir de novo o partido liberal; citavam-se conselheiros que Sua<br />
Majestade o imperador mandara chamar a S. Cristóvão.<br />
Mas, de repente, tudo serenou; porque um grande letreiro acabava de ser<br />
fixado à porta de um jornal: "Organização do novo gabinete conservador".<br />
E entre os sete nomes que aí se liam, achava-se também o de Teobaldo<br />
Henrique de Albuquerque.<br />
O organizador do novo ministério chamara-o na véspera para lhe dar a pasta<br />
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.<br />
Estava ministro.<br />
O <strong>Coruja</strong>, logo ao saber da grande nova, não se pode conter e atirou-se para<br />
a casa do amigo.<br />
— Teobaldo ministro! Oh! Que belo! Que belo! Ia ele a pensar pelo caminho.<br />
Quem o havia de supor Deputado apenas nesta última candidatura e já hoje no<br />
poder! Isto é o que se chama andar aos pulos!<br />
E foi com imensa dificuldade que o <strong>Coruja</strong> conseguiu chegar até à porta de<br />
S. Exa., tal era a multidão que aí se reunia, para saudar o novo ministro. A rua, a<br />
chácara tudo estava cheio de gente, uma banda de música tocava o hino nacional<br />
em frente da casa, e dentre o povo partiam repetidos vivas ao herói daquela festa e<br />
ao partido conservador.<br />
André deteve-se um pouco entre a multidão, empenhado em escutar os<br />
originais e desencontrados comentários que se faziam a respeito do amigo.<br />
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