24.12.2014 Views

O Coruja - Unama

O Coruja - Unama

O Coruja - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

www.nead.unama.br<br />

CAPÍTULO III<br />

Depois desta cena Ernestina passava a maior parte dos seus dias no segundo<br />

andar. Mas não gostava de lá ir enquanto o <strong>Coruja</strong> não tivesse saído para a rua.<br />

É que ele a intimidava com o seu ar antipático e carrancudo e com aquela<br />

repreensiva gravidade de homem sério; defronte dele sentia-se acanhada e<br />

contrafeita, como se estivesse defronte de um velho intolerante e respeitável; sentiase<br />

mais criminosa ao lado de André do que ao lado do próprio Almeida.<br />

Quanto a Teobaldo, esse, longe de a constranger, fascinava-a, atraindo-a,<br />

dominando-a com a sua indiferença e com o seu orgulho gracioso e sedutor.<br />

Ao tom senhoril das palavras dele, defronte daquele olhar fidalgo ou daquele<br />

frio sorriso de adulado, ela se sentia escrava e submissa, feliz em amá-lo, mesmo<br />

com a certeza de ser mal correspondida.<br />

E, quanto mais passiva se tornava a pobre moça, mais senhor se fazia ele;<br />

tanto que afinal já lhe dava ordens e já a repreendia, como se estivesse a falar com<br />

o Sabino.<br />

Uma vez em que Teobaldo à secretária respondia às cartas da família, ela<br />

tomou-lhe a cabeça entre as mãos e beijou-lhe os olhos.<br />

— Que é isso Perguntou ele.<br />

— Não ralhes comigo...<br />

— Vejo fogo!<br />

Ernestina obedeceu e foi colocar-se depois ao lado dele.<br />

— Queres que me vá embora... Perguntou no fim de algum silêncio.<br />

— Pode ir.<br />

Ela deu alguns passos para sair da sala, mas voltou na ponta dos pés.<br />

— Por que me tratas assim!... Disse encostando a cabeça na dele.<br />

— Ainda Exclamou Teobaldo, sem levantar a pena do papel.<br />

— Estás farto de mim, não é<br />

— É.<br />

— Ingrato!<br />

Ele não lhe deu mais uma só palavra e continuou a escrever até que<br />

Ernestina se foi embora, a enxugar as lágrimas.<br />

Entretanto, nem sempre a tratava assim; às vezes chegava até a mostrar-se<br />

carinhoso com ela. Nos bons dias, ao entrar da rua, corria-lhe a mão pelos cabelos e<br />

fazia-lhe festinhas no queixo. Dependia tudo do seu bom ou mau humor.<br />

Uma noite, ela o fitou com mais insistência e perguntou-lhe se queria que o<br />

Almeida fosse para o olho da rua.<br />

— Mas a senhora não disse que era casada com ele<br />

— Tu bem sabes que não sou, e sabes igualmente que serei muito capaz de<br />

lhe fechar a porta, se o ordenares.<br />

— Deixa-te disso, filha!<br />

— É porque não me amas...<br />

— Talvez.<br />

52

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!