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Que lucraria Oh! Lucraria muito! Lucraria em desabafar, lucraria em dividir<br />
com alguém a sua mágoa!<br />
— Não! Isso só se pode fazer com um ente, um único, quando o possuímos,<br />
e eu o possuí tão pouco!...<br />
— Quer falar de sua mãe<br />
— É verdade.<br />
— E não se lembra de que eu, por bem dizer, sou seu irmão, que a vi<br />
pequenina e que me habituei a estimá-la e a respeitá-la, como se tivéssemos bebido<br />
o mesmo leite materno...<br />
— Mas que lhe podem interessar meus desgostos São tão íntimos... Tão<br />
meus !...<br />
— Por isso mesmo me interessam, porque eles são muito seus. Oh! Era<br />
preciso não ser seu amigo, seu companheiro de infância, seu irmão, para não me<br />
interessar por eles, como me interesso por tudo que lhe diz respeito!<br />
E chegando-se ainda mais junto dela:<br />
— Juro-lhe, minha prima, que, apesar da tremenda decepção que sofri com<br />
o seu casamento, apesar de a ter desejado ardentemente para minha esposa, só a<br />
idéia de que Teobaldo faria a sua felicidade levou-me a esquecer tudo! Nunca mais<br />
a possuiria, é exato; nunca mais a vida seria para mim outra coisa mais do que a<br />
morte sem as regalias da morte, sem o descanso, sem o esquecimento e sem a dor;<br />
consolava-me, porém, a idéia de ter contribuído para a ventura daquela que eu<br />
idolatrava, daquela que foi a única mulher que amei, que amarei sempre! E contava.<br />
pois, que, em a vendo satisfeita e alegre, eu teria também, do fundo da minha<br />
desgraça, o meu quinhão de alegria! Vendo-a gozar, eu gozaria também! Ah! Mas<br />
quando dei pelo procedimento de seu marido; quando descobri que ele<br />
covardemente a enganara, fazendo-lhe acreditar que a amaria por toda a vida;<br />
quando cheguei a compreender qual fora a verdadeira intenção daquele miserável,<br />
arrancando-a brutalmente da casa paterna; ah! Então, confesso-lhe, minha prima,<br />
transformei-me todo; confesso-lhe que senti indignação tão grande como seria a<br />
indignação de seu pai, se ainda vivesse!<br />
— Meu pai! Oh! Não me fale nele, por amor de Deus!<br />
— Sim, seu pai, que juntou a vida ao dote cobiçado pelo seu raptor.<br />
— Meu primo!<br />
— Perdoe-me! Deixe-me desabafar por uma vez, que estou cansado de<br />
reprimir a minha indignação! Juro-lhe que, se Teobaldo fosse um bom marido, teria<br />
em mim um amigo para a vida e para a morte; mas, fazendo-a sofrer, desprezando-a<br />
como a despreza, desdenhando de todas essas virtudes e de todos esses encantos<br />
que a prima possui como nenhuma outra mulher no mundo, preferia vê-lo<br />
atravessado por uma bala!<br />
— Cale-se por amor de Deus!<br />
— Não tem que se revoltar com o que estou dizendo! É na qualidade de<br />
amigo e de irmão que lhe falo! Ninguém terá maior empenho do que eu em protegê-la!<br />
— Não posso aceitar uma proteção que acusa e ofende meu marido...<br />
— Em sua defesa, eu acusaria o próprio Deus, se ele a desgostasse!...<br />
— Pois se assim é, proteja-me estimando Teobaldo, perdoando-lhe as faltas<br />
e defendendo aos olhos dele a minha causa. Só por essa forma provaria o primo<br />
que me estima deveras.<br />
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