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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Ora essa!...<br />

— Calculo quanto não gozará ele com ser tão dos outros e tão pouco de si<br />

mesmo; calculo a infinita volúpia da sua abnegação; o prazer supremo de não ter um<br />

vício, a consciência de não ter cometido uma ação má durante toda a sua vida.<br />

— Há de haver um pouco de exagero de tua parte...<br />

— Qual! Não disse a metade do que ele é...<br />

— Que entusiasmo! Parece que o estimas mais do que a mim!...<br />

— Pudera! Resmungou o rapaz, disposto a continuar o elogio do <strong>Coruja</strong>;<br />

mas foi interrompido pelo criado, que os chamava para jantar.<br />

Teobaldo tinha as vezes dessas expansões; dava para discorrer com<br />

entusiasmo sobre alguém que na ocasião o impressionava; ao passo que no dia<br />

seguinte seria capaz de fazer o mesmo por uma pessoa completamente oposta.<br />

Do meio para o fim do jantar, jantarzinho de hotel, porque nesse dia ainda<br />

não se havia acendido o fogão da casa, ele se mostrou menos pessimista a respeito<br />

do amor das mulheres e mais disposto a corresponder com os carinhos ao sacrifício<br />

de Leonília; entretanto, quando esta lhe falou em viverem juntos, Teobaldo protestou<br />

energicamente.<br />

— Não! Isso não era possível!<br />

Ele tinha lá as suas aspirações, precisava fazer carreira e não estava<br />

resolvido a começar com o pé esquerdo.<br />

— És um ingrato!... Queixava-se ela, enxugando as lágrimas. És um ingrato!<br />

Até aqui fugias de mim, Porque eu não era só tua; pois abandono tudo, venho<br />

meter-me neste canto e tu, mesmo assim, declaras abertamente que não queres<br />

morar comigo!... Oh! Isto também é demais! Já passa à maldade!<br />

— Não, filha; é impossível morarmos juntos! Não posso. Hei de aparecer-te<br />

de vez em quando, sempre, talvez todos os dias, mas...<br />

— És um homem mau, um egoísta.<br />

E multiplicaram-se as recriminações. Afinal Teobaldo, apesar do firme<br />

propósito em que estava de muscar-se depois do jantar, resolveu não ir; ficou.<br />

— Também que diabo! Seria crueldade deixá-la ali, naquela casa, em<br />

companhia de um criado admitido na véspera.<br />

E de mais, pensava ele, que posso eu recear... Quando a coisa se torna<br />

perigosa, mando-a plantar batatas!<br />

CAPÍTULO XII<br />

Voltou de lá As três horas da tarde do dia seguinte.<br />

— Mais um dia perdido! Considerava ele amargamente ao entrar em casa já<br />

ao cair da noite e depois de ter jantado em companhia de amigos.<br />

Ainda no corredor foi detido pelo <strong>Coruja</strong>, que lhe disse com reserva:<br />

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