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— Ora essa!...<br />
— Calculo quanto não gozará ele com ser tão dos outros e tão pouco de si<br />
mesmo; calculo a infinita volúpia da sua abnegação; o prazer supremo de não ter um<br />
vício, a consciência de não ter cometido uma ação má durante toda a sua vida.<br />
— Há de haver um pouco de exagero de tua parte...<br />
— Qual! Não disse a metade do que ele é...<br />
— Que entusiasmo! Parece que o estimas mais do que a mim!...<br />
— Pudera! Resmungou o rapaz, disposto a continuar o elogio do <strong>Coruja</strong>;<br />
mas foi interrompido pelo criado, que os chamava para jantar.<br />
Teobaldo tinha as vezes dessas expansões; dava para discorrer com<br />
entusiasmo sobre alguém que na ocasião o impressionava; ao passo que no dia<br />
seguinte seria capaz de fazer o mesmo por uma pessoa completamente oposta.<br />
Do meio para o fim do jantar, jantarzinho de hotel, porque nesse dia ainda<br />
não se havia acendido o fogão da casa, ele se mostrou menos pessimista a respeito<br />
do amor das mulheres e mais disposto a corresponder com os carinhos ao sacrifício<br />
de Leonília; entretanto, quando esta lhe falou em viverem juntos, Teobaldo protestou<br />
energicamente.<br />
— Não! Isso não era possível!<br />
Ele tinha lá as suas aspirações, precisava fazer carreira e não estava<br />
resolvido a começar com o pé esquerdo.<br />
— És um ingrato!... Queixava-se ela, enxugando as lágrimas. És um ingrato!<br />
Até aqui fugias de mim, Porque eu não era só tua; pois abandono tudo, venho<br />
meter-me neste canto e tu, mesmo assim, declaras abertamente que não queres<br />
morar comigo!... Oh! Isto também é demais! Já passa à maldade!<br />
— Não, filha; é impossível morarmos juntos! Não posso. Hei de aparecer-te<br />
de vez em quando, sempre, talvez todos os dias, mas...<br />
— És um homem mau, um egoísta.<br />
E multiplicaram-se as recriminações. Afinal Teobaldo, apesar do firme<br />
propósito em que estava de muscar-se depois do jantar, resolveu não ir; ficou.<br />
— Também que diabo! Seria crueldade deixá-la ali, naquela casa, em<br />
companhia de um criado admitido na véspera.<br />
E de mais, pensava ele, que posso eu recear... Quando a coisa se torna<br />
perigosa, mando-a plantar batatas!<br />
CAPÍTULO XII<br />
Voltou de lá As três horas da tarde do dia seguinte.<br />
— Mais um dia perdido! Considerava ele amargamente ao entrar em casa já<br />
ao cair da noite e depois de ter jantado em companhia de amigos.<br />
Ainda no corredor foi detido pelo <strong>Coruja</strong>, que lhe disse com reserva:<br />
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