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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O amo, se demora um pouco mais, já não o encontrava com vida.<br />

Assentou-se ao lado da cama e ajudou o moribundo a segurar uma vela de<br />

cera, que lhe haviam posto entre as mãos extensas e descarnadas.<br />

Entretanto, o velho agonizava, quase sem o menor movimento de corpo ou a<br />

menor contração de rosto.<br />

Era uma figura imóvel, hirta, com os membros duros, os olhos cravados no<br />

ar, fixos e já turvados pela morte.<br />

O conselheiro debruçou-se sobre ele, disse-lhe em voz baixa algumas<br />

palavras de consolação, que não foram ouvidas, e afinal quando a morte chegou de<br />

todo, retirou-se para o seu gabinete, sem conseguir resolver em lágrimas o peso<br />

enorme que se lhe fora acumulando por dentro.<br />

CAPÍTULO XXVIII<br />

Dadas as providências para o enterro do velho Caetano, Teobaldo tomou<br />

algumas colheres de caldo e meteu--se na cama, recomendando que não o<br />

chamassem.<br />

Passou o dia inteiro na modorra da febre e à noite foi necessário buscar o<br />

médico, porque o seu incomodo recrudescia.<br />

O médico examinou-o e declarou que havia uma congestão de fígado. Era,<br />

pois, indispensável para o doente evitar todo e qualquer abalo moral e submeter-se<br />

a um rigoroso tratamento, sem o que podia sobrevir a hemoptise, e a coisa tornar-se<br />

então muito mais séria.<br />

Acudiu logo muita gente com a notícia da moléstia de S. Exa.; como, porém,<br />

o doutor havia proibido ao enfermo falar a alguém, contentavam-se todos com deixar<br />

o cartão de visita; só o <strong>Coruja</strong> não levou lá o seu nome, porque nunca passava do<br />

portão do jardim e entendia-se com os criados inferiores.<br />

Hipólito e D. Geminiana achavam-se então na fazenda e por isso não deram<br />

sinal de si.<br />

Todavia, e apesar dos afetados desvelos de tanta gente, a hepatite do<br />

senhor conselheiro progredia, agravada agora por uma lesão pulmonar, cujos<br />

sintomas já se denunciavam.<br />

Ele, muito abatido, o rosto cor-de-oca, a barba de quatro dias, os olhos<br />

fundos e tingidos de amarelo, mostrava-se muito desanimado e com um grande<br />

medo de morrer.<br />

O médico ia vê-lo três vezes ao dia e de todas lhe recomendava a mais<br />

completa tranqüilidade de espírito.<br />

O doente sorria ao ouvir estas palavras.<br />

Uma noite mandou chamar a mulher.<br />

Ela não se fez esperar e correu ao quarto do marido. A enorme<br />

transformação, que lhe notara logo ao primeiro golpe de vista, impressionou-a<br />

vivamente; contudo quedou-se fria e contrafeita à porta da alcova, como se<br />

estivesse defronte de um estranho.<br />

— Branca!... Murmurou ele, volvendo para a esposa os olhos já despidos do<br />

primitivo encanto.<br />

— O médico recomendou que lhe não deixassem falar... Respondeu ela,<br />

sem sair do ponto em que se achava.<br />

— Venha para junto de mim, pediu o infeliz; preciso do seu perdão.<br />

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