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Qual não foi, porém, a sua decepção, quando, levando trabalho a um jornal,<br />
ouvia essas palavras daqueles mesmos que dantes o elogiavam:<br />
— Homem! Deixe ficar isso... Havemos de ver, mas o senhor bem sabe que<br />
o público vai e tornando exigente: é preciso dar-lhe coisas boas!.<br />
Teobaldo compreendeu então o alcance de certas palavras de seu pai:<br />
"Esconde o mais que puderes a tua necessidade; ela só por si é o pior estorvo que<br />
se pede levantar defronte de ti, quando precisares de dinheiro..."<br />
E com eleito: dantes, Teobaldo mal apresentava algum trabalho nas<br />
redações, só ouvia em torno de si elogios e palavras de entusiasmo. É que sabiam<br />
perfeitamente que ele não precisava ganhar a vida; agora era um necessitado como<br />
qualquer e então viravam-lhe as costas, porque a necessidade é sempre ridícula e<br />
importuna<br />
O mesmo justamente lhe sucedera com os teatros. Dantes, quando<br />
Teobaldo freqüentava a caixa dos teatros nas horas de ensaio, pagando champanha<br />
aos artistas e levando-os depois do espetáculo a cear nos melhores hotéis; dantes,<br />
quando ele os presenteava nos benefícios e lhes emprestava dinheiro, muita vez<br />
perguntaram-lhe os empresários por que razão, dispondo de tanto talento e de tanto<br />
espírito, não escrevia ele alguma coisa para ser levada à cena. Havia por força de<br />
fazer sucesso!... Teobaldo que experimentasse!<br />
E agora, quando a necessidade lhe invadira a casa, rapaz, lembrando-se de<br />
tão repetidas solicitações feitas ao seu talento, tornou de um romance inglês e<br />
extraiu daí um drama que, se não era um primor de arte, estava ao menos no gosto<br />
do público e podia dar lucro ,aqueles mesmos empresários o receberam com frieza,<br />
dizendo-lhe secamente que deixasse ficar o trabalho e aparecesse depois. E, mais<br />
tarde, talvez sem terem lido a obra, acrescentaram-lhe com meias palavras e dandolhe<br />
o pretensioso tratamento de "filho" que ele fosse cuidar de outro ofício e<br />
perdesse as esperanças de arranjar alguma coisa por aquele modo.<br />
Com o seu gênio altivo, com a educação que tivera, Teobaldo não podia<br />
insistir em tais pretensões. Era bastante perceber um gesto de má vontade ou de<br />
pouco caso para lhe subir o sangue às faces, e muito fazia já conseguindo reprimir a<br />
cólera que se assanhava dentro dele, sôfrega por escapar em frases violentas.<br />
Depois dessas lutas e dessas tentativas estéreis, voltava para casa<br />
desanimado e furioso contra tudo e contra todos, encerrando-se no quarto e<br />
fechando-se por dentro para chorar à vontade.<br />
Vinha-lhe então quase sempre a idéia do suicídio, mas não vinha com ela a<br />
resolução, e o desgraçado continuava a viver.<br />
Todavia o tempo ia-se passando e o círculo das necessidades apertava-se<br />
cada vez mais.<br />
<strong>Coruja</strong> era agora o único sustentáculo da casa, era quem pagava o aluguel,<br />
a pensão de comida para Teobaldo que ele continuava a almoçar e jantar no<br />
colégio, era quem lhe pagava a lavadeira, e quem lhe fornecia dinheiro.<br />
Mas tudo isso era feito com tamanha delicadeza, com tanto amor, que<br />
Teobaldo, quando lhe aparecia qualquer revolta do caráter, ficava mais<br />
envergonhado de seu orgulho do que com receber aqueles obséquios.<br />
E nunca o André andou tão satisfeito, tão alegre de sua vida; dir-se-ia que<br />
ele, praticando aqueles sacrifícios, alcançava enfim a realização dos seus melhores<br />
sonhos.<br />
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