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— E do que me serve a vida sem Teobaldo... E que o senhor não conhece,<br />
não pode imaginar o que é a existência de nós outras, mulheres perdidas! E<br />
simplesmente horrível! Hoje ainda encontro quem me ampare, porque não estou de<br />
todo acabada; mas amanhã os homens principiarão a desertar e as suas vagas<br />
representarão mil necessidades — Depois a moléstia, a fome completa e afinal —<br />
"Uma esmola por amor de Deus!" Eis aí o que me espera, como espera a todas as<br />
minhas iguais! Atravessamos uma existência de vergonhas para acabar num<br />
hospício de idiotas ou num hospital de mendigos! Pois bem! Com a idéia em<br />
Teobaldo, eu me esquecia desse futuro implacável; bem sei que ele nunca me<br />
recolheria de todo à sua guarda... Quem sou eu para merecer tanto... mas dizia<br />
comigo "Ele, coitado, tem-me amor, nada me pode fazer por ora; mais tarde, porém,<br />
quando me vir totalmente desamparada, virá em meu socorro e não consentirá que<br />
eu morra como um cão sem dono !"<br />
— E quem lhe disse que ele não olhará pela senhora... Por que o há de<br />
supor tão mau<br />
— Ah! Mas uma vez casado, a coisa muda logo de figura... Não há homem<br />
que se não modifique deixando o estado de solteiro! Quando eles até então só<br />
amam a mulher com que se casam, mal a possuem esquecem-na por outra; e, se<br />
antes do casamento já se dedicavam a qualquer amante, será esta sacrificada à<br />
legítima esposa. Esta é a lei geral; esta há de ser a lei de Teobaldo!<br />
— Mas, segundo me parece, isso não impede que ele seja eternamente<br />
grato aos desvelos que a senhora lhe dedicou.<br />
— Sim, creio, e é justamente por esse motivo que eu nada esperarei dele<br />
depois do casamento. Uma mulher aceita a compaixão seja de quem for e pelo que<br />
for, menos do seu amado, em substituição da ternura.<br />
— Pois se lhe repugna aceitá-la das mãos dele, pode recebe-la das minhas;<br />
comprometo-me a olhar pela senhora.<br />
Leonília, ao ouvir isto, voltou-se de todo para o <strong>Coruja</strong> e mediu-o em silêncio<br />
com os olhos ainda congestionados pelo choro. "Que significaria aquela<br />
proposição..."<br />
— O senhor tenciona tomar-me à sua conta... Perguntou ela surpresa.<br />
Tenciona fazer-se meu amante<br />
André tornou-se vermelho e balbuciou:<br />
— Está louca<br />
— Mas não é essa a proposta que acaba de fazer<br />
— Eu lhe ofereci apenas o meu auxílio pecuniário...<br />
— Quer ser então o meu protetor<br />
— Quero opor-me à desgraça de Teobaldo.<br />
— Quanto o senhor é amigo daquele ingrato!<br />
— Se a senhora se acha disposta a sair do Rio de Janeiro, arranja-se-lhe o<br />
necessário para a viagem. Concorda<br />
— Sim; creia, porém, que é mais pelo senhor do que por ele.<br />
— Obrigado. Amanhã mesmo lhe chegará o dinheiro às mãos. Adeus.<br />
Leonília foi acompanhá-lo até à porta e o <strong>Coruja</strong> saiu para ir ter com<br />
Teobaldo.<br />
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