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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— E do que me serve a vida sem Teobaldo... E que o senhor não conhece,<br />

não pode imaginar o que é a existência de nós outras, mulheres perdidas! E<br />

simplesmente horrível! Hoje ainda encontro quem me ampare, porque não estou de<br />

todo acabada; mas amanhã os homens principiarão a desertar e as suas vagas<br />

representarão mil necessidades — Depois a moléstia, a fome completa e afinal —<br />

"Uma esmola por amor de Deus!" Eis aí o que me espera, como espera a todas as<br />

minhas iguais! Atravessamos uma existência de vergonhas para acabar num<br />

hospício de idiotas ou num hospital de mendigos! Pois bem! Com a idéia em<br />

Teobaldo, eu me esquecia desse futuro implacável; bem sei que ele nunca me<br />

recolheria de todo à sua guarda... Quem sou eu para merecer tanto... mas dizia<br />

comigo "Ele, coitado, tem-me amor, nada me pode fazer por ora; mais tarde, porém,<br />

quando me vir totalmente desamparada, virá em meu socorro e não consentirá que<br />

eu morra como um cão sem dono !"<br />

— E quem lhe disse que ele não olhará pela senhora... Por que o há de<br />

supor tão mau<br />

— Ah! Mas uma vez casado, a coisa muda logo de figura... Não há homem<br />

que se não modifique deixando o estado de solteiro! Quando eles até então só<br />

amam a mulher com que se casam, mal a possuem esquecem-na por outra; e, se<br />

antes do casamento já se dedicavam a qualquer amante, será esta sacrificada à<br />

legítima esposa. Esta é a lei geral; esta há de ser a lei de Teobaldo!<br />

— Mas, segundo me parece, isso não impede que ele seja eternamente<br />

grato aos desvelos que a senhora lhe dedicou.<br />

— Sim, creio, e é justamente por esse motivo que eu nada esperarei dele<br />

depois do casamento. Uma mulher aceita a compaixão seja de quem for e pelo que<br />

for, menos do seu amado, em substituição da ternura.<br />

— Pois se lhe repugna aceitá-la das mãos dele, pode recebe-la das minhas;<br />

comprometo-me a olhar pela senhora.<br />

Leonília, ao ouvir isto, voltou-se de todo para o <strong>Coruja</strong> e mediu-o em silêncio<br />

com os olhos ainda congestionados pelo choro. "Que significaria aquela<br />

proposição..."<br />

— O senhor tenciona tomar-me à sua conta... Perguntou ela surpresa.<br />

Tenciona fazer-se meu amante<br />

André tornou-se vermelho e balbuciou:<br />

— Está louca<br />

— Mas não é essa a proposta que acaba de fazer<br />

— Eu lhe ofereci apenas o meu auxílio pecuniário...<br />

— Quer ser então o meu protetor<br />

— Quero opor-me à desgraça de Teobaldo.<br />

— Quanto o senhor é amigo daquele ingrato!<br />

— Se a senhora se acha disposta a sair do Rio de Janeiro, arranja-se-lhe o<br />

necessário para a viagem. Concorda<br />

— Sim; creia, porém, que é mais pelo senhor do que por ele.<br />

— Obrigado. Amanhã mesmo lhe chegará o dinheiro às mãos. Adeus.<br />

Leonília foi acompanhá-lo até à porta e o <strong>Coruja</strong> saiu para ir ter com<br />

Teobaldo.<br />

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