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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Eu!<br />

— Sim! Já não és o mesmo para mim...<br />

— Ora essa! Acaso terei, sem saber, cometido alguma coisa que te<br />

desgostasse... Já deixei qualquer dia porventura de tratar-te com a mesma<br />

delicadeza e com a mesma dedicação que sempre me mereceste...<br />

— Oh, não! Não me queixo disso! És cada vez mais delicado e mais<br />

atencioso para comigo.<br />

— Então<br />

— Mas é que já não me amas como dantes! Acho-te frio, indiferente aos<br />

meus carinhos; posso dizer que me suportas com dificuldade quando insisto em ficar<br />

perto de ti,<br />

— Ilusão tua!<br />

— Não, não me iludo! Já não és o mesmo! Dantes querias ter-me ao teu lado,<br />

quando trabalhavas horas esquecidas no gabinete; fazias-me ir buscar na estante um<br />

livro ou outro de que precisavas para consultá-lo; fazias-me procurar no dicionário o<br />

termo que te faltava na ocasião; lias-me sempre o que escrevias, consultavas a minha<br />

opinião, discutias comigo, prendias-me enquanto durasse o teu serviço, pagando-me<br />

depois a beijos todo o prazer que eu punha em estar contigo. Dantes não tinhas fora<br />

de casa uma conversa, vem encontro menos comum, uma impressão qualquer, que<br />

não me viesses logo transmiti-los; tudo me contavas; dizias-me todos os passos de<br />

tua vida, e eu podia, hora por hora, instante por instante, afinar meu coração pelo teu;<br />

e agora já nada me contas do que fazes; já não me reclamas quando vais para a tua<br />

mesa de trabalho; já não me passas o braço na cintura e não me levas contigo; já não<br />

encontras o que me dizer; já não achas graça em coisa alguma que eu faço; vosso ir<br />

para o piano, posso cantar os mesmos romances que dantes estimavas tanto; e nada<br />

te comove, e nada te prende, e nada te chama a atenção! Teu pensamento, tua alma,<br />

está toda lá fora; aqui só vens para preparar novos elementos de popularidade! Agora<br />

ligas mais importância à opinião do primeiro que se te apresenta do que ligas à minha<br />

opinião e às minhas palavras!<br />

— Sim, porque tua opinião é suspeita...<br />

— Oh! Não há opinião menos suspeita e mais valiosa do que a da pessoa<br />

que amamos sinceramente; pelo menos comigo é assim: nada do que os outros me<br />

passam dizer, por mais lisonjeiro que seja, vale o mais insignificante gesto de<br />

aprovação que de ti venha. O maior elogio dos estranhos não vale o menor dos teus<br />

sorrisos...<br />

— Ah! Decerto, porque o caso muda muito de figura: tu és mulher e és<br />

minha esposa; vives pura e exclusivamente para o nosso lar, vives para mim; teu<br />

público sou eu, e mais ninguém. A minha opinião deve esconder aos teus olhos todo<br />

e qualquer juízo dos estranhos. Desde que eu decida dos teus atos, nada mais tens<br />

que ver com o que pensam os outros a respeito deles. Se eu os aprovar ou se eu os<br />

reprovar, seja com justiça ou não seja, estão definitivamente aprovados ou<br />

reprovados, ninguém mais tem nada que dizer!<br />

— Pois é justamente por isso; justamente porque tu para mim representas o<br />

mundo inteiro; justamente porque eu só a ti possuo; porque só com o teu julgamento<br />

devo contar, e porque não tenho outro estimulo e por que não tenho outro amor,<br />

senão o teu e que com tanto empenho te disputo e tanto me arreceio de perder-te<br />

Ao terminar estas palavras, Branca deixou de novo transbordar, desfeito em<br />

lágrimas o seu ressentimento, mas Teobaldo, por melhores esforços que<br />

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