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O Coruja - Unama

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<strong>Coruja</strong>; ainda se fosse miserável ou estúpido, — Vá! Mas não! Teobaldo era lindo,<br />

era rico, era talentoso e, além de tudo — Amado! Amado por tantas criaturas e,<br />

principalmente, por aquela adorável mãe, cujos beijos e cujas lágrimas eram o<br />

bastante para lhe adoçar todos os espinhos da vida.<br />

E André, assim considerando, via-se perfeitamente, tinha-se defronte dos<br />

olhos, como se estivesse em frente a um espelho. Lá estava ele — Com a sua<br />

disforme cabeça engolida pelos ombros, com o seu torvo olhar de fera mal<br />

domesticada, com os sobrolhos carregados, a boca fechada a qualquer alegria, as<br />

mãos ásperas e curtas, os pés grandes, o todo reles, miserável, nulo!<br />

O desgraçado, porém, em vez de dar ouvidos a estes raciocínios, voltou-se<br />

todo para uma voz íntima, uma voz que também lhe vinha do coração, mas toda<br />

brandura e humildade.<br />

E essa voz lhe dizia:<br />

— Pois bem, miserável! Ingrato! Tu, que és órfão; tu que não tens onde cair<br />

morto; tu, que és feio, que és o <strong>Coruja</strong>; tu, que não tens nenhum dote brilhante, que<br />

não és distinto, nem espirituoso, nem possuis mérito de espécie alguma; tu, mal<br />

agradecido! — És amado por Teobaldo, que dispõe de tudo isso à larga e que te faz<br />

penetrar sua sombra no santuário de corações onde nunca penetrarias sem ele.<br />

E o <strong>Coruja</strong>, saindo da sala para respirar lá fora mais à vontade, pôs-se a<br />

caminhar, a caminhar à toa entre as sombras das árvores, sentindo-se arrebatado<br />

por um inefável desejo de ser bom, um desejo de ser eternamente grato a quem,<br />

possuindo todas as riquezas, o escolhia para seu íntimo, para seu irmão — A ele,<br />

que nada possuía sobre a terra.<br />

Ser "bom"!<br />

Mas seria isso humildade ou seria ambição e orgulho<br />

Quem poderá afirmar que aquele enjeitado da natureza não se queria vingar<br />

da própria mãe fazendo de si um monstro de bondade Sim. Vingar-se, fugindo da<br />

esfera mesquinha dos homens, fugindo às paixões, às pequenas misérias<br />

mundanas e procurando refugiar-se no próprio coração, ainda receoso de que o céu,<br />

cúmplice da terra, lhe negasse também a graça de um abrigo.<br />

Ou quem sabe então se o ambicioso, vendo-se completamente deserdado<br />

de todos os dotes simpáticos a que tem direito a sua espécie, não queria supri-los<br />

por uma virtude única e extraordinária — A bondade<br />

A bondade, esse pouco!<br />

Visionário! Não se lembrava de que a bondade, á força de ser esquecida e<br />

desprezada, converteu-se em uma hipótese ou só aparece no mercado social em<br />

pequenas partículas distribuídas por milhares de criaturas; como se dessa heróica<br />

virtude houvesse apenas uma certa e determinada porção desde o começo do<br />

mundo e que, de então para cá, à medida que se multiplicaram as raças. ela se fora<br />

dividindo e subdividindo até reduzir-se a pó.<br />

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