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O Coruja - Unama

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www.nead.unama.br<br />

uma honra telhada pelo padrão de um regulamento; só isso ou tudo isso, meu<br />

André, faz-me desanimar.<br />

— Então não há remédio, decide-te pela engenharia...<br />

— Impossível! Seria um engenheiro que havia de contar pelos dedos,<br />

quando precisasse somar três adições!<br />

— Então, parte quanto entes para a Alemanha e vai estudar ciências<br />

naturais...<br />

— Que de nada me serviriam aqui no Brasil e para as quais tenho tanta<br />

aversão quanta tenho às tais ciências exatas e moreis!<br />

— Dedica-te à igreja...<br />

— Se eu tivesse jeito, quem sabe<br />

— Ou então às belas-artes. Faz-te músico, pintor ou escultor.<br />

— E o talento para isso, onde ir buscá-lo Queres que eu peça ao velho que<br />

me remeta lá de Mines, todos os meses, um pouco de gênio...<br />

— Ora! Tu tens talento para tudo.<br />

— O que eqüivale a não ter para coisa alguma. Entendo um pouco de<br />

desenho, um pouco de música, de canto, de poesia, de arquitetura, mas sinto-me<br />

tão incapaz de apaixonar-me por qualquer dessas artes, como por qualquer<br />

daquelas ciências. Tudo me atrai; nada, porém, me prende!<br />

E, depois de um silêncio, durante o qual não encontrou o <strong>Coruja</strong> uma<br />

palavra para dar ao amigo:<br />

— Queres saber qual era a carreira que eu de bom grado abraçaria, se não<br />

fossem as conveniências...<br />

— Qual<br />

— O teatro! Fazia-me ator.<br />

— Estais louco<br />

— Ah! Não! Ainda não estou, que, se o estivesse, já teria-me resolvido a<br />

entrar em cena.<br />

— Havias de arrepender-te...<br />

— Quem sabe lá...<br />

CAPÍTULO II<br />

Levavam os dois amigos uma existência bem curiosa na sua casinha de<br />

Mata-cavalos.<br />

Completavam-se perfeitamente. Teobaldo era quem determinava tudo aquilo<br />

que dependesse do gosto, era sempre quem escolhia, o outro limitava-se a<br />

conservar e desenvolver.<br />

Ao André faltava a fantasia, a originalidade; não tinha inspirações, nem sabia<br />

comunicar às pessoas e às coisas que o cercavam o mais ligeiro reflexo individual;<br />

mas o que lhe faltava por esse lado sobrava-lhe em método, em paciência e bom<br />

senso. Era ali o espírito da ordem, o pacífico regulador do asseio e da decência;<br />

queria as coisas no seu lugar, não podia compreender o que lia ou escrevia, sem ver<br />

em torno de si a mais harmoniosa disposição nos móveis, nos livros e em todos os<br />

objetos de que se compunha a casa.<br />

Teobaldo entrava e saía de casa, sem horas certas, mudava de roupa,<br />

atirando a camisa enxovalhada para cima do primeiro traste que encontrava, e daí a<br />

pouco perdendo a cabeça à procura do chapéu, ou da bengala, que ele próprio<br />

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