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Contudo ninguém podia dizer mal de sua conduta. Passava todo o santo dia<br />
ocupada com os arranjos da casa e só se mostrava à janela ou saía a passear no<br />
jardim nas tardes de muito calor, quando o corpo reclama ar livre.<br />
Teobaldo notara que, todas as noites, entre as sete e as dez, aparecia na<br />
sala de jantar de D. Ernestina um sujeito de meia idade, gordo, semicalvo,<br />
discretamente risonho e pelo jeito homem de negócios.<br />
A persistência deste tipo ao lado da rapariga e as maneiras carinhosas com<br />
que ele a tratava levaram o estudante a decidir para si que o homem, "Seu Almeida",<br />
como lhe chamava ela, era sem dúvida o verdadeiro dono da casa; mas nem de leve<br />
se preocupou com isso.<br />
Às vezes D. Ernestina reunia em torno de si duas ou senhoras de amizade e<br />
palestravam antes do chá.<br />
Nessas ocasiões, Teobaldo descia quase sempre ao andar debaixo e, com a<br />
sua presença, animava a sala, cantando, tocando piano, fazendo prestidigitações e<br />
recitando poesias.<br />
Uma vez, em que ele deixou-se ficar à mesa depois do almoço, Ernestina<br />
guardou também a cadeira e os dois principiaram a conversar:<br />
— Ainda não tinha vindo à corte perguntou ela.<br />
— Vim, mas de passagem, quando saí de Minas para à Europa.<br />
— Ah! Viajou pela Europa<br />
— Estive em um colégio de Londres.<br />
— E depois voltou para junto de sua família...<br />
— Até o dia em que vim para aqui.<br />
— Seu pai é fazendeiro<br />
— Sim, senhora.<br />
— E pelos modos, rico...<br />
— Remediado.<br />
— Como se chama<br />
— Barão do Palmar.<br />
— Ah!<br />
— Ou então Emílio Henrique de Albuquerque.<br />
— Ainda vive a senhora sua mãe<br />
— Ainda. Quer ver o retrato dela Trago-o nesta medalha.<br />
D. Ernestina levantou-se e ficou por alguns segundos debruçada sobre<br />
Teobaldo a ver a delicada miniatura em marfim que ele trazia na corrente do relógio.<br />
— Ainda está moça... Muito bem conservada.....<br />
— Hoje tem os cabelos quase todos brancos. Meu pai, que é muito mais<br />
velho, não está tão acabado.<br />
— Que perfume é esse que o senhor usa<br />
— É dos que ainda trouxe de casa. O velho recebe-os diretamente da<br />
Inglaterra.<br />
— É muito agradável.<br />
— Pois, se quiser, posso ceder-lhe um frasquinho; tenho ainda muitos lá em<br />
cima.<br />
D. Ernestina aceitou; ele correu a buscar a perfumaria e, depois de<br />
conversarem a respeito do <strong>Coruja</strong>, que fora trazido à baila e o qual declarou ela com<br />
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