«Symposion» and «Philanthropia» in Plutarch - Bad Request ...

Nuno Simões RodriguesÉ ainda da historiografia romana que nos chega o relato de pelo menosmais quatro exemplos de festins fúnebres. O primeiro decorreu durante oprincipado de Cláudio e diz respeito ao processo que desencadeou a execuçãoda sua mulher, a imperatriz Valéria Messalina. É na sequência de um banqueteorgíaco de características trágico‐dionisíacas que Messalina é acusada de terpraticado bigamia e conspirado contra o imperador. Estas acusações acabarãopor levar a imperatriz à morte, bem como muitos dos que com ela se envolveramno festim báquico 40 . O segundo exemplo data do final do mesmo principado.Ou melhor, marca o final desse mesmo principado, dado que Suetónio levantaa suspeita de Cláudio ter sido envenenado durante um banquete que serealizou no Capitólio 41 . O terceiro caso data do principado de Nero e refereseao homicídio de Britânico, precisamente o filho de Messalina e Cláudio.Tácito conta, pormenorizadamente, que foi durante um banquete que o jovempríncipe foi envenenado por Nero, através de uma estratégia digna da quePlutarco regista para o episódio de Parisatis e Estatira 42 . É ainda através deTácito e Suetónio que ficamos a saber que o mesmo Nero maquinou a morteda própria mãe, Agripina Menor, a quem atraiu a um banquete para depois afazer entrar num navio preparado para naufragar 43 . Quatro situações fúnebres,germinadas em outros tantos festins.Estes são alguns exemplos que, quanto a nós, comprovam quão difundidoera o tema do festim maldito na literatura greco-latina, no tempo de Plutarco.Mas o topos teve um êxito com ecos bem além desse universo. Efectivamente,ele estava já presente nas literaturas orientais pré-clássicas e suas herdeiras.Podemos encontrá-lo, por exemplo, nas culturas do mundo bíblico, em diversosepisódios e textos. Na história de José, a morte do padeiro-mor da corte egípciaé decretada enquanto decorre o banquete de aniversário do faráo 44 . No livrodos Juízes, o relato da vida de Sansão, uma narrativa de forma deuteronomísticacom contornos épico-trágicos, romanescos e folclóricos datada de entre osséculos VIII e VI a.C. 45 , recorre ao tema por duas vezes. A primeira enquadrao relato do casamento do herói com uma filisteia. Sansão oferece um banquete,em que propõe um enigma a um grupo de jovens. Estes, incapazes de decifrar oque lhes foi apresentado, decidem chantagear a mulher de Sansão, para que elaobtenha do marido a resposta desejada. A filisteia cede e trai o marido. Sansãoacaba por revelar-lhe a resposta e a mulher transmite-a aos interessados. Iradopor ter sido enganado, Sansão mata os jovens 46 . A segunda vez contextualizao episódio da morte do herói. Conta-se que os príncipes dos Filisteus se40Tac., Ann. 11, 26-32. Analisámos já este episódio, bem como os ecos mitológico-literáriosque nele podemos descortinar, em 2003.41Suet., Cl. 44.42Tac., Ann. 13, 16.43Suet., Nero 34; Tac., Ann. 14, 3-4.44Gn 40, 20-23. É esse mesmo acontecimento que faz com que o copeiro-mor não volte arecordar-se de José, que ficou na prisão; ver H. Gunkel, 1964 (1ª ed., 1901).45Ver R. G. Boling, 1975, pp. 30-1; J. Nunes Carreira, 1993, p. 211.46Jz 14, 10-20. No célebre filme de Cecil B. De Mille, de 1949, o argumentista nomeou amulher de Sansão como Semadar.238