certa paz em meio a turbilhões de acontecimentos. Algo novo acontecera na vida deles, pois terão que cuidar e se responsabilizar por mais uma criança inocente que tivera tirada de sua vida seu bem mais preciso: a família. E família é agora mais do que nunca o que eles quatro juntos formam. No entanto, como a própria ilustração final do livro (uma interrogação) o leitor fecha o último volume da série com uma interrogação na cabeça. Já que nada é muito esclarecido, muitas dúvidas ainda existem. Figura 4 - Ilustração de Brett Helquist ao final do último livro 40
3. CARACTERÍSTICAS DA NARRATIVA A narrativa da série foi elaborada numa perspectiva seriada que condiz em muito com a linguagem cinematográfica e inclusive com a televisiva. Há uma relação entre esta elaboração e a aparente hegemonia da uma sequência de situações inusitadas. Wolfgang Iser classifica a obra literária como “uma produção esquemática, que esboça o seu objeto” (ISER, 2001: 103). Há momentos na série em que Lemony Snicket dá pistas de que tudo se passa de ficção. O que não é ficção? Tudo que é escrito, será que é verdade? Qual a fronteira entre a ficção e a não-ficção? A estrutura? Não se consegue chegar a uma conclusão sobre esta fronteira. Dentro do campo da análise do discurso, o que determina uma verdade são as condições históricas, uma vez que todo discurso está condicionado a elas. Na ficção se cria uma história que duplica essa realidade. Uma das diferenças entre o texto ficcional e outros textos reside no fato de, no primeiro, as orações projetarem contextos objectuais e, através destes, seres e mundos puramente intencionais, que não se referem, a não ser de modo indireto, a seres também intencionais, ou seja, a objetos determinados que independem do texto. Na obra de ficção, o raio da intenção detém-se nestes seres puramente intencionais, somente se referindo de um modo indireto – e isso nem em todos os casos – a qualquer tipo de realidade extraliterária. Já nas orações de outros escritos, por exemplo, de um historiador, químico, repórter etc., as objectualidades puramente intencionais não costumam ter por si só nenhum (ou pouco) “peso” ou “densidade”, uma vez que, na sua abstração ou esquematização maior ou menor, não tendem a conter em geral esquemas especialmente preparados de aspectos que solicitam o preenchimento concretizador (CANDIDO, 1976: 17) A obra de Snicket é totalmente intencional. Não se pode chamar de previsível porque, ao se problematizar aquela estrutura realista, materialista, linear, previsível e sequencial, se problematizou o tempo, o espaço, a relação da personagem nesse espaço e nesse tempo. Existe o absurdo, como nos textos que são chamados de teatro do absurdo, non-sense, literatura do absurdo ou literatura fantástica, Snicket reúne tudo isso. Segue abaixo as opiniões de D’Onofrio e Rosenfeld a respeito: Se faltar a verossimilhança interna, dizemos que a obra é incoerente ou aloucada, aproximando-se do não-sentido; se faltar a verossimilhança externa, entramos no domínio do gênero fantástico, definido por Todorov como uma hesitação entre o estranho e o maravilhoso, entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados. (D’ONOFRIO, 1999: 20) 41
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tive vontade de rasgar o livro 13 a
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Lemony Snicket consegue, ao longo d
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Figura 34 - Pôster norte-americano
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oposto, como pela fascinação por
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Conclui-se, portanto, que as surpre
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CÂNDIDO, Antônio. Literatura e so
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POE, Edgar Allan. O corvo. Rio de J
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TODOROV, Tzvetan. As categorias da
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