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O termo “verdade”, quando usado com referência a obras de arte ou de ficção, tem significado<br />

diverso. Designa com frequência qualquer coisa como a genuinidade, sinceridade ou<br />

autenticidade (termos que em geral visam à atitude subjetiva do autor); ou a verossimilhança,<br />

isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação àquilo que aconteceu, mas àquilo que<br />

poderia ter acontecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo imaginário das<br />

personagens e situações miméticas; ou mesmo a visão profunda – de ordem filosófica,<br />

psicológica ou sociológica – da realidade. (...) Quando chamamos “falsos” um romance trivial<br />

ou uma fita medíocre, fazemo-lo, por exemplo, porque percebemos que neles se aplicam<br />

padrões do conto de carochinha a situações que pretendem representar a realidade cotidiana.<br />

Os mesmos padrões que funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do conto de fadas<br />

revelam-se falsos e caricatos quando aplicados à representação do universo profano da nossa<br />

sociedade atual (a não ser que esta própria aplicação se torne temática). “Falso” seria também<br />

um prédio com portal e átrio de mármore que encobrissem apartamentos miseráveis. É esta<br />

incoerência é que é “falsa”. Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico conto de<br />

fadas, apesar de o seu mundo imaginário corresponder muito menos à realidade empírica do<br />

que o de qualquer romance de entretenimento. (ROSENFELD, 1976: 18-19)<br />

Há um maravilhoso típico dos contos de fada, que, entretanto, parece que não é o<br />

maravilhoso da “fada boa” e da “fada má”, mas sim o fato de as crianças Baudelaire<br />

lidarem muito bem com as iminências. Tudo é muito iminente: o medo, a destituição do<br />

lar e a insistência de Olaf em roubar e fazer mal às crianças, então há sempre uma<br />

iminência de alguma coisa que está pra acontecer. E até mesmo a iminência de um<br />

desfecho que, iminentemente, não ocorre. Há uma atmosfera de permanente corda-<br />

bamba, instabilidade o tempo todo. Nada é estável, as crianças têm uma situação<br />

insegura. Sempre tem algo para acontecer, mas as coisas não acontecem por inteiro, os<br />

desfechos não satisfazem. Seu caráter antirrealista nega um desfecho “enclausurado”.<br />

Sobre a influência da elaboração dos tempos verbais, Candido diz:<br />

O pretérito, apesar de em certos casos ter o cunho fictício do “era uma vez”, tem em geral mais<br />

força “realizadora” e “individualizadora” do que a voz do presente (“O elefante pesa no<br />

mínimo uma tonelada” pode ser o enunciado de um zoólogo sobre os elefantes em geral; mas<br />

“o elefante pesava no mínimo uma tonelada” refere-se a um elefante individual, existente em<br />

determinado momento). (CANDIDO, 1976: 16)<br />

“O elefante pesava” faz o leitor ver o sujeito. Essa função do narrador tem um<br />

peso de rememoração, i.e., só se rememora aquilo que já foi vivenciado. Essa é a<br />

relação mais comum com o rememorar. O narrador tem essa função. Ou seja, a narrativa<br />

é rememorativa, é remissiva.<br />

[O escritor] veicula a sua visão por meio de uma estória vivida por certas pessoas num<br />

determinado lugar. (...) A experiência da vida, própria do artista, e que lhe veio tanto da própria<br />

existência vivida quanto da experiência intelectual, que é vivida, vista ou imaginada,<br />

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