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Então, a questão da recepção não é uma vivência própria. Vive-se também a<br />

experiência do outro. Lemony Snicket, por exemplo, é leitor de Charles Baudelaire e<br />

passa a tematizar seus próprios leitores com a tematização de Baudelaire. A experiência<br />

estética é a experiência de quem leu, mesmo que essa “leitura” tenha sido por outras<br />

linguagens artísticas, como a leitura não-verbal de uma pintura ou a leitura sonora de<br />

uma música. (Stierle: “O sujeito da produção e o sujeito da recepção não são pensáveis<br />

como sujeitos isolados, mas apenas como social e culturalmente mediados, como<br />

sujeitos ‘transubjetivos’.”). Snicket, tematizado por Baudelaire, vai trazer em sua escrita<br />

uma nova leitura de Baudelaire, que não é o Baudelaire dos poemas, mas sim o das<br />

tragédias, representado por um nome de família, nem que seja apenas uma parcela da<br />

biografia de Charles Baudelaire. Eu fui tematizado por Snicket e, por consequência, por<br />

Charles Baudelaire.<br />

Uma obra de arte perdura. E para entender como a posteridade a recebe, isto é,<br />

quando uma geração posterior à do autor tem acesso à obra, faço novamente uso de<br />

Jauss para explicar o que ocorre neste caso:<br />

Quando o leitor contemporâneo ou as gerações posteriores receberem o texto, revelar-se-á o<br />

hiato quanto à poiesis, pois o autor não pode subordinar a recepção ao propósito com que<br />

compusera a obra: a obra realizada desdobra, na aisthesis e na interpretação sucessivas, uma<br />

multiplicidade de significados que, de muito, ultrapassa o horizonte de sua origem. A relação<br />

entre poiesis e katharsis tanto pode se dirigir ao destinatário, que deve ser persuadido ou<br />

ensinado pela retórica do texto, quando remeter ao próprio produtor: o autor pode tematizar<br />

expressamente o “poetar do poetar”, como se a liberação d sua psique fosse um efeito da<br />

poiesis – cantando Il duol si disacerba (“com o canto, a dor se abranda”), como diz o famoso<br />

verso de Petrarca, verso em que a ficção extinguiu o hiato entre a emoção e a distância própria<br />

à escrita. (JAUSS, 2001: 81)<br />

De acordo com Jauss, a catarse liberta o expectador dos interesses práticos e das<br />

implicações de seu cotidiano, a fim de levá-lo, através do prazer de si no prazer no<br />

outro, para a liberdade estética de sua capacidade de julgar.<br />

A distância estética não pode ser compreendida apenas como uma relação unilateral e solidária,<br />

apenas contemplativa e desinteressada quanto ao objeto “distanciado”. Na reação de prazer<br />

ante o objeto estético, realiza-se, ao invés, uma reciprocidade entre sujeito e objeto, em que<br />

“ganhamos interesse em nossa ausência de interesse”. Este interesse estético se explica de<br />

forma mais simples pelo fato de que o sujeito, enquanto utiliza sua liberdade de tomada de<br />

posição perante o objeto estético irreal, é capaz de gozar tanto o objeto, cada vez mais<br />

explorado por seu próprio prazer, quanto seu próprio eu, que, nesta atividade, se sente liberado<br />

de sua existência cotidiana. (JAUSS, 2001: 76)<br />

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