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8. SUNNY E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM<br />

Dos três irmãos Baudelaire, Sunny é a personagem mais intrigante e menos<br />

inverossímil da história. Entretanto, é a única que mostra alguma modificação de<br />

comportamento, pois nela ocorrem transformações.<br />

Por ser ainda um bebê, sua fala não é desenvolvida, mas esta evolução da<br />

linguagem vai ocorrer a partir da metade da série. Sunny é pura, a linguagem nasce<br />

nela, pois ela ainda não foi contaminada por outros sentidos pré-determinados.<br />

Semiologicamente, ela representa o grande desafio à expressão: seu esforço para<br />

comunicar-se, assemelha-se ao esforço do poeta, do artista que elabora sua linguagem,<br />

no sentido de surpreender, provocar o assombro, sendo na temática, a partir de um<br />

ponto de vista inusitado, ou na construção do discurso, a partir de associações originais<br />

de palavras, de recursos expressivos singulares. Sua fala apresenta incertezas e<br />

indecisões, podendo simbolizar a dificuldade de expressão do autor.<br />

“Eu simplesmente não entendo”, disse Klaus, o que não era algo que ele dissesse com muita<br />

freqüência. Violet concordou com a cabeça e depois disse alguma coisa que também ela não<br />

dizia com muita freqüência:<br />

“É um quebra-cabeça que não tenho certeza se somos capazes de resolver.”<br />

“Pietrisycamollaviadelrechiotemexity”, disse Sunny, o que era algo que ela só tinha dito uma<br />

vez antes daquela. Significava alguma coisa na linha de: “Devo admitir que não tenho a mais<br />

pálida idéia do que está acontecendo”, e na primeira vez em que a mais jovem dos Baudelaire<br />

dissera isso, ela acabara de ser trazida para casa do hospital onde nascera e estava olhando para<br />

os irmãos quando eles se debruçaram sobre o berço para saudá-la. (SNICKET, vol. 8: 68-69)<br />

Retomando a observação da psicanálise, o que mais chama a atenção no trabalho<br />

das duas psicanalistas para os objetivos desta pesquisa é a seguinte observação: “Certas<br />

crianças reservam para sua mãe uma linguagem ou uma série de sons especiais.”<br />

Segundo Anne Freud & Dorothy Burlinghan (1958), a criança adota uma espécie de<br />

grunhido para indicar que não gosta de algo e um grasnar para indicar o que gosta, de<br />

modo que apenas quem está familiarizado com ela – geralmente a mãe – consiga<br />

entender suas necessidades.<br />

Com Sunny não é diferente. Apesar do seu tatibitate habitual, que nunca é<br />

entendido pelos adultos, apenas seus irmãos – e o narrador – sabem exatamente o que<br />

ela quer dizer. Esta característica, além de curiosa, cria todo um sentido irônico, uma<br />

vez que, na narrativa, são de Sunny as idéias e comentários mais brilhantes – como no<br />

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