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estejam sendo, apresentam tal comportamento. Sua frustração tem como consequência o<br />

mais simples resígnio – mesmo que fiquem com muita raiva, eles raramente externam<br />

isso fisicamente no decurso da obra (agressividade latente, isto é, uma forma de<br />

agressividade mais sutil, presente nos pequenos gestos ou na voz). De qualquer forma,<br />

este silêncio dos oprimidos – grupo do qual também fazem parte os irmãos Quagmire –<br />

pode representar um grito interno, sinal de depressão mais grave, difícil de ser<br />

detectado. Em matéria publicada na Revista Isto É Gente, o Dr. Brunini 22 afirma que a<br />

criança tem seus gritos interiores e o comportamento depressivo é um desses gritos.<br />

De acordo com o Dicionário Técnico de Psicologia, o termo “deslocamento de<br />

agressividade” se refere a uma “ação agressiva dirigida contra uma pessoa ou objeto que<br />

não foi (ou não é) a causa da frustração” (CABRAL & NICK, 2006: 15). O termo, longe<br />

de ser de aplicação exclusiva na psicologia infantil, pode também ser utilizado para<br />

demonstrar o comportamento dos vilões ao terem seus planos frustrados.<br />

Cabe, porém, destacar os casos em que a agressividade toma conta das crianças<br />

Baudelaire. No capítulo 11 do terceiro volume, Snicket conta que “Violet já não tinha<br />

paciência (...) e estendeu a mão e arrancou a rede da cabeça de tia Josephine”<br />

(SNICKET, Vol. 3: 150). No capítulo seguinte é a vez de Klaus agredir Olaf<br />

verbalmente, chamando-o de “demônio do inferno” (SNICKET, Vol. 3: 164). O simples<br />

desejo de matar ou agredir também é uma agressividade, apesar de reprimida. No<br />

volume 1, Violet “olhou com tristeza para o prato de comida do conde, e se surpreendeu<br />

desejando ter comprado veneno no mercado para acrescentar ao molho” (SNICKET,<br />

Vol. 1: 52), e em seguida sugere aos irmãos, como astuciosa maneira de se defender:<br />

“Poderíamos quebrar garrafas ao meio e usá-las como facas” (SNICKET, Vol. 1: 120).<br />

Anne e Dorothy (1958) afirmam também que a criança, ao se sentir abandonada ou<br />

desprotegida, pode adotar um comportamento autodestrutivo para chamar a atenção das<br />

pessoas. É o que acontece quando os Baudelaire provocam alergia em si próprias com<br />

balas de hortelã-pimenta para escapar do novo tutor (SNICKET, Vol. 3: 90-92).<br />

Surge, então, a seguinte indagação: e o leitor? Não é difícil imaginar que um<br />

final frustrante como o volume 13 provoque alguma reação, mesmo que seja um<br />

pequeno spleen. Peço licença para abordar um assunto particular, mas eu, como leitor,<br />

22 Carlos Roberto Brunini é pediatra, mestre em homeopatia, doutor em clínica médica, membro da<br />

American Academy of Pediatrics, diretor da FACIS (Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo) e<br />

autor de mais de 20 livros<br />

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