Download Monografia - Tag Cultural
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total e um tempo dramático parcial. O tempo dramático total é a soma de todos os<br />
tempos parciais.<br />
Embora um filme possa ter uma duração de duas horas de tempo real, quando vemos, vivemos<br />
outro tempo, que, evidentemente, não é real, mas sim mágico, de ficção, que nos faz condensar<br />
em apenas duas horas toda uma tarde, uma vida inteira ou até dois séculos. (COMPARATO,<br />
2000: 229)<br />
Podemos dizer que, na obra de Snicket, o tempo dramático total é representado<br />
pelos treze volumes, sendo iniciado no momento em que os Baudelaire estão na Praia<br />
do Sal e são avisados sobre a morte de seus pais, e sendo finalizado no desfecho do<br />
volume 13, quando os Baudelaire abandonam a ilha com o bebê órfão de Kit Snicket.<br />
Comparativamente ao cinema, a recepção de uma obra literária possui um tempo<br />
real diferente do que o cinema apresenta. Em uma sala de cinema o filme é emitido de<br />
modo uniforme e assim todos os espectadores/receptores possuem o mesmo tempo para<br />
receber a mensagem emitida, mesmo que esta recepção seja feita de modo heterogêneo<br />
– uma vez que cada receptor possui um repertório e um horizonte de expectativa<br />
individuais, o que os leva a reagir à mesma mensagem de modo diferenciado. Já na obra<br />
literária o tempo de transmissão da mensagem varia de um leitor para outro,<br />
dependendo da velocidade de leitura e da capacidade de compreensão da mensagem que<br />
cada um exerce.<br />
O tempo da leitura é um tempo irreversível que determina nossa percepção do conjunto, mas<br />
pode também tornar-se um elemento literário com a condição de que o autor o leve em conta<br />
na história. Por exemplo, no início da página, diz-se que são dez horas; e na página seguinte<br />
que são dez e cinco. Esta introdução inocente do tempo de leitura na estrutura da narrativa não<br />
é a única possível: existem outras nas quais não nos podemos deter; indiquemos apenas que se<br />
toca aqui no problema da significação estética das dimensões de uma obra. (TODOROV, 2008:<br />
246)<br />
O tempo dramático possui, portanto, uma “velocidade” constante de emissão ao<br />
ser total, e uma “velocidade” diferenciada (pelo ritmo, pela estrutura narrativa ou pelos<br />
detalhamentos) ao ser parcial. Pode-se presumir que o tempo dramático total das<br />
desventuras compreenda um período inferior a um ano na vida dos órfãos Baudelaire, já<br />
que nele é percebido o amadurecimento de Sunny, apenas Klaus “comemora” seu<br />
aniversário dentro da prisão na Cidade Sinistra dos Corvos (vol. 7) e nenhuma data<br />
comemorativa (Natal, Páscoa, passagem de ano) é mencionada.<br />
A manipulação do tempo na narrativa é outro importante problema. Seu uso requer uma grande<br />
flexibilidade e apuro. O autor deve usar uma série de artifícios e táticas de narrativa a fim de<br />
dar ao leitor a exata ideia da marcha do tempo na estória, ou para encurtá-la e acelerá-la de<br />
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