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se fugiram e estão escondidos, qual é o seu parentesco com algumas das personagens; e<br />
qual foi o seu papel nisso tudo além da narração. “Outro problema importante, e<br />
relacionado com o ponto de vista, é o da posição do narrador em relação à estória. Ele<br />
pode isolar-se dela ou intrometer-se no relato como um intérprete ou comentador.”<br />
(COUTINHO, 2008: 68)<br />
Com respeito à onisciência de Snicket a respeito dos Baudelaire, o narrador/<br />
investigador demonstra possuir uma visão pseudo-totalizadora. Totalizadora porque ele<br />
sabe exatamente tudo a respeito das personagens – tudo que é necessário saber para<br />
contar sua história. E pseudo porque ele ignora ou finge desconhecer os mistérios não-<br />
resolvidos pelos Baudelaire – e por ele mesmo. Chega a ser intrigante esta característica<br />
ambígua do conhecimento do autor em relação ao que por ele é contado.<br />
Fundamental na narrativa é o problema do ponto de vista, isto é, a posição da qual o autor<br />
conta a estória. O bom êxito da narrativa depende, em grande parte, da solução adequada do<br />
problema. Quem contará a estória? São os diversos ângulos de visão em que se pode situar o<br />
narrador. É clara a relevância do assunto, porque um episódio pode ser diferentemente visto,<br />
julgado e testemunhado consoante o posto d observação em que se coloca a pessoa que narra. E<br />
o relato de um mesmo fato pode variar se diferentes são os narradores, conforme ensina a<br />
psicologia do testemunho (COUTINHO,2008: 65)<br />
Algumas perguntas são respondidas (e a maioria não) de forma póstuma nos<br />
livros publicados após o volume 13: Lemony Snicket – Autobiografia Não-autorizada,<br />
The Beatrice Letters e The Blank Book. Até a data de conclusão desta pesquisa os dois<br />
últimos livros ainda não haviam sido publicados no Brasil. Um livro foi publicado em<br />
2009, sob o título Raiz-Forte: Verdades Amargas Que Você Não Pode Evitar, contendo<br />
citações tiradas dos treze volumes que compõem a odisseia dos Baudelaire, como por<br />
exemplo, “O destino é como um estranho e impopular restaurante, cheio de garçons<br />
esquisitos trazendo coisas que você nunca pediu e de que nem sempre gosta”<br />
(SNICKET, 2009: 143). Esta publicação reforça a ideia de humor negro existente no<br />
texto – e na persona sombria – de Snicket.<br />
Por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato presente entre nós, em<br />
sua atualidade viva. Ele é algo de distante, e que se distancia ainda mais.<br />
(...) A experiência de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E,<br />
entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias<br />
orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. (BENJAMIN, 1994a: 197-198)<br />
(...) O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a<br />
relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes.<br />
(BENJAMIN, 1994a: 201)<br />
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