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Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser 128<br />
senti<strong>do</strong> especial que lhe é da<strong>do</strong> pelos filósofos – e que a<strong>do</strong>tamos para nossos estu<strong>do</strong>s –, pode-se recorrer a esta<br />
mesma obra, p. 143-144.<br />
8 “Será determinada como sociedade primitiva toda máquina social que funcione segun<strong>do</strong> a ausência da<br />
relação de poder. (...) Podemos dizer que as sociedades primitivas, enquanto sociedades sem divisão, fecham<br />
ao desejo de poder e ao desejo de submissão toda possibilidade de realizar-se. Máquinas sociais habitadas<br />
pela vontade de perseverar em seu ser não dividi<strong>do</strong>, as sociedades primitivas instituem-se como lugares de<br />
repressão <strong>do</strong> mau desejo”. Pierre Clastres, “Liberdade, mau encontro, inominável”, in Arqueologia da<br />
violência – pesquisas de antropologia política, p. 160-164.<br />
9 “É a presença ou a ausência da formação estatal (suscetível de assumir múltiplas formas) que fornece a toda<br />
sociedade o seu elo lógico, que traça uma linha de irreversível descontinuidade entre as sociedades. O<br />
aparecimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> realizou a grande divisão tipológica entre selvagens e civiliza<strong>do</strong>s, e traçou uma<br />
indelével linha de separação além da qual tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u, pois o Tempo se torna História”. Pierre Clastres, A<br />
sociedade contra o Esta<strong>do</strong> – pesquisas de antropologia política, p. 217.<br />
10 A concepção <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> enquanto formação histórica processual aparece de maneira<br />
surpreendente na pena <strong>do</strong> filósofo Friedrich Nietzsche, que além <strong>do</strong> mais, era um profun<strong>do</strong> etnólogo, no<br />
senti<strong>do</strong> excepcional <strong>do</strong> termo. Por meio de uma potência bárbara, os 'mais involuntários e inconscientes<br />
artistas', <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de um 'olhar de bronze', impõem uma 'estrutura de <strong>do</strong>mínio que vive', muito embora<br />
bastante diferente da formação estatal moderna, anônima e rebaixada na impotência democrática perante os<br />
rumos e acasos da história: “o mais antigo 'Esta<strong>do</strong>', em conseqüência, apareceu como uma terrível tirania,<br />
uma maquinaria esmaga<strong>do</strong>ra e implacável, e assim prosseguiu seu trabalho, até que tal matéria-prima<br />
humana e semi-animal ficou não só amassada e maleável, mas também <strong>do</strong>tada de uma forma. Utilizei a<br />
palavra 'Esta<strong>do</strong>”: está claro a que me refiro – algum ban<strong>do</strong> de bestas louras, uma raça de conquista<strong>do</strong>res e<br />
senhores, que, organizada guerreiramente e com força para organizar, sem hesitação lança suas garras<br />
terríveis sobre uma população talvez imensamente superior em número, mas ainda informe e nômade. Deste<br />
mo<strong>do</strong> começa a existir o 'Esta<strong>do</strong>' na terra: penso haver-se acaba<strong>do</strong> aquele sentimentalismo que o fazia<br />
começar com um 'contrato'”. Cf. Genealogia da moral, II, § 17, p. 74-75.<br />
11 A arquitetura desempenhou um papel político importantíssimo nos últimos séculos, sobremaneira devi<strong>do</strong> à<br />
disseminação de inovações técnicas e tecnológicas capazes de intervir massivamente nos teci<strong>do</strong>s urbanos,<br />
que passaram a ser remodela<strong>do</strong>s pela ação <strong>do</strong> capital e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s (como no caso das biopolíticas). Nas<br />
circunstâncias atuais da Machinapolis, “a arquitetura é apenas um cruzamento, um ponto nodal, um pólo de<br />
fixação onde a inércia começa a renovar a antiga sedentaridade <strong>do</strong>s habitantes das cidades, cidadãos de<br />
direito para quem a liberdade de ir e vir é subitamente substituída pela libertação de uma recepção a<br />
<strong>do</strong>micílio...”. Paul Virilio, “A arquitetura improvável”, in O espaço crítico: as perspectivas <strong>do</strong> tempo real. Rio<br />
de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 57-58.<br />
12 “Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fenômenos das poluições atmosférica, hidrosférica e de outros tipos, existe um fenômeno<br />
despercebi<strong>do</strong> de poluição da extensão, que proponho designar como 'poluição dromosférica', de dromos,<br />
corrida. De fato, a contaminação atinge não somente os elementos, as substâncias naturais, o ar, a água, a<br />
fauna ou a flora, mas ainda o espaço-tempo de nosso planeta. Reduzi<strong>do</strong> progressivamente a nada pelos<br />
diversos meios de transportes e comunicação instantâneos, o meio geofísico sofre uma inquietante<br />
desqualificação de sua 'profundidade de campo' que degrada as relações entre o homem e seu ambiente”. Paul<br />
Virilio, “As perspectivas <strong>do</strong> tempo real”, in O espaço crítico: as perspectivas <strong>do</strong> tempo real, p. 105-106. – Guy<br />
Debord, por sua vez, conheceu a potência entrópica auto-destrutiva da sociedade contemporânea: “(...) uma<br />
época em que tantas coisas têm si<strong>do</strong> mudadas, na surpreendente velocidade das catástrofes”. Cf. Panegírico.<br />
São Paulo: Conrad, 2002, p. 13.<br />
13 Cf. Georg Lukács, “Cultura fechada”, in Teoria <strong>do</strong> romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas<br />
da grande épica. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2000.<br />
14 “Codificar o desejo – e o me<strong>do</strong>, a angústia <strong>do</strong>s fluxos descodifica<strong>do</strong>s – é o objectivo <strong>do</strong> socius. O capitalismo é<br />
(...) a única máquina social que se construiu sobre fluxos descodifica<strong>do</strong>s, substituin<strong>do</strong> os códigos intrínsecos<br />
por uma axiomática das quantidades abstractas em forma de moeda. (...) De certo mo<strong>do</strong> o capitalismo<br />
aparece em todas as formas de sociedades, mas como o seu pesadelo terrificante, como o me<strong>do</strong> pânico que<br />
elas têm dum fluxo que escaparia aos seus códigos”. Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Édipo: capitalismo<br />
e esquizofrenia, p. 143-144. Uma explanação detalhada acerca das diferenças <strong>do</strong>s códigos referencialmente<br />
às axiomáticas pode ser lida na mesma obra, p. 257-262.<br />
15 “Volver al planeta, a sus dimensiones y a su próxima pérdida en la aceleración, no ya de la Historia (que<br />
acaba de perder su base concreta con el tiempo local), sino el de la aceleración de la propia realidad, con la<br />
nueva importancia de este tiempo mundial en el que la instantaneidad borra definitivamente la realidad de las<br />
distancias”. Paul Virilio, La bomba informática. Madrid: Ediciones Cátedra, 1999, p. 18.