Download do livro - cchla - UFRN
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sagacidade de Zaratustra, ao se debruçar sobre esta questão, condiz com<br />
seu pathos cria<strong>do</strong>r:<br />
Companheiros, eis o que procura o cria<strong>do</strong>r, e não<br />
cadáveres, nem tão-pouco rebanhos, nem crentes. O<br />
que busca o cria<strong>do</strong>r são aqueles que criam<br />
juntamente com ele, aqueles que inscrevem novos<br />
valores em novas tábuas. Companheiros procura o<br />
cria<strong>do</strong>r, que o ajudem a colher, pois tu<strong>do</strong> nele está<br />
maduro para a colheira. Mas faltam-lhe as cem<br />
foices; por isso, ele arranca as espigas e irrita-se.<br />
Companheiros procura o cria<strong>do</strong>r, mas daqueles que<br />
sabem afiar as suas foices. Chamar-lhes-ão<br />
destrui<strong>do</strong>res e desdenha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Bem e <strong>do</strong> Mal. Mas<br />
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são-no aqueles que colhem e que festejam .<br />
A criação exaltada pelo movimento <strong>do</strong>s fluxos da naturaleza ressoa<br />
numa força de vontade afirmativa de um estilo artístico auto-referencial,<br />
que exige para si uma polivocidade autêntica e original, expressa em obras<br />
deveras diferenciadas que produzem variegadas espécies de beleza. São as<br />
constelações desconhecidas emergidas por forças que logo se exteriorizam<br />
e tornam-se públicas, sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> subterrâneo <strong>do</strong> ser-espécie que vive<br />
e experiencia na carne a superação da tragédia.<br />
A revolta cria<strong>do</strong>ra realiza-se pela práxis que se revela no devir ahistórico<br />
através de um pensamento menor, que corta o caos afirman<strong>do</strong>-o<br />
por vontade de cultivar o seu ethos, basea<strong>do</strong> na construção de seus próprios<br />
mitos, ritos, poesiações, histórias, epopéias, ciências, filosofias, dramas e<br />
jogos micropolíticos, sen<strong>do</strong> capaz de gerar uma heterogênese vital e<br />
ontológica processualmente cria<strong>do</strong>ra. Tal fenômeno advém da superação<br />
empreendida pelo artista-filósofo, que ultrapassa os escombros de<br />
Machinapolis como um relâmpago, trovejan<strong>do</strong> perante o nihilismo<br />
patológico que brinda a sua consumação através da decadência que<br />
prolifera pelo mun<strong>do</strong> afora.<br />
A revolta traça um plano de imanência com as virtualidades<br />
cria<strong>do</strong>ras de grandes obras de arte, advindas <strong>do</strong>s intermezzi de devires ahistóricos,<br />
ao conclamar não existir apenas a história, pelo simples motivo<br />
de que há estrelas no céu, solidões compartilhadas com os seres anima<strong>do</strong>s<br />
e inanima<strong>do</strong>s <strong>do</strong> caos. Sen<strong>do</strong> assim, o artista-filósofo cria, com malícia e<br />
ginga próprias, as condições propícias para garantir a existência <strong>do</strong><br />
pensamento autopoiético cria<strong>do</strong>r, que se expressa no meio (e apesar) de<br />
uma guerra eclodida pelos Esta<strong>do</strong>s totalitários.<br />
Lucas Fortunato | Edson Gonçalves Filho | Lisandro Loreto 285