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Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser 308<br />

<strong>do</strong> pensamento que não se faz por estruturas fixas de sujeito e objeto, mas,<br />

por relações cinéticas e sinergéticas. Torna-se quase perceptível o<br />

movimento das peças disseminadas no espaço picturial, as quais cooperam<br />

na produção da imagem planetária.<br />

O leitor visual presencia o aberto <strong>do</strong> grande infinito e os pequenos<br />

universos que o habitam e se circunscrevem diante de seus olhos. Rainer<br />

Maria Rilke, em Elegias de Duíno, nos oferta com sua visão o desejo <strong>do</strong><br />

artista e <strong>do</strong> poeta de ver o aberto <strong>do</strong> puro infinito:<br />

Com to<strong>do</strong>s os seus olhos a criatura vê o Aberto. (...) O animal<br />

espontâneo ultrapassou seu fim: diante de si tem apenas Deus e quan<strong>do</strong><br />

se move é para a eternidade, como correm as fontes. Ignoramos o que é<br />

contemplar um dia, somente um dia, o espaço puro, onde sem cessar as<br />

flores desabrocham. Sempre o mun<strong>do</strong>, jamais o em-parte-alguma, sem<br />

nada: o puro, o inespera<strong>do</strong> que se respira, que se sabe infinito, sem a<br />

avidez <strong>do</strong> desejo.<br />

Percebemos na superfície da tela que a distribuição de seus<br />

elementos “sintáticos” produz o efeito de um móbile no espaço, através de<br />

uma lente a mostrar muito mais além <strong>do</strong> que é discernível ao visto, uma<br />

espécie de composição errática. Feita por mecanismos subterrâneos, no<br />

espaço entre o sujeito e o objeto a rasgar uma cena de representação que<br />

não é mais a mimética, i.e., aquela que conduz a leituras de reflexo direto <strong>do</strong><br />

real, essencial para o realismo da representação.<br />

Cabe também reportar-nos à arte de pintar – qual a arte de pensar –<br />

e seus enigmas na união da racionalidade com a sensibilidade, no senti<strong>do</strong><br />

de tentar modificar a configuração da imagem para se dar a ruptura <strong>do</strong>s<br />

limites de uma visualidade reconhecível.<br />

Estamos em face ao insólito, sem a coerência espacial, que surge<br />

de uma evocação da montagem cubista, produtora de uma nova espécie de<br />

real, nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XX, de que a obra Les demoiselles<br />

d'Avignon, de Pablo Picasso, é exemplo emblemático <strong>do</strong> cataclismo<br />

provoca<strong>do</strong> nas concepções da pintura, crian<strong>do</strong> novos cânones estéticos e<br />

destruin<strong>do</strong> as tradicionais relações entre o belo e o feio.<br />

O trabalho pictórico de Fortunato deixa-nos pensar numa<br />

perlaboração dessas experiências vanguardistas, para o encontro de uma<br />

singularidade contemporânea que traduz várias fontes visuais, mesmo que<br />

as subjetividades daí nascidas possam ser perturba<strong>do</strong>ras, dilaceradas, ou<br />

violentamente distorcidas.

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