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Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser 022<br />

Igitur está aprisiona<strong>do</strong> a um relógio. Seu nome mesmo vira<strong>do</strong><br />

próprio – Igitur –, na verdade uma palavra latina, uma conjunção (portanto,<br />

pois, mesmo). Elemento que aponta para a perdida substância <strong>do</strong> nome. É o<br />

que nomeará o estranho personagem de Mallarmé. Elemento de coesão,<br />

ligação, coordenação. O desejo de Absoluto o levará a arrebentar as cordas<br />

<strong>do</strong> relógio. Dispara da obscuridade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para ser ele mesmo relógio,<br />

“de quem a hora desaparecia pelo espelho, ou vai ocultar-se nas cortinas<br />

(...). Ele se separa <strong>do</strong> tempo indefini<strong>do</strong> e é!” (Ib., p. 91).<br />

Por que nos damos aqui a essa discussão mallarmeana? Para<br />

remetermos à tela lucaniana e procurarmos na face humana (?), que esta<br />

desenha, um outro – o que se lança contra o tempo histórico, no tempo<br />

histórico, o que não nomeia uma conjunção, mas disjunções. Talvez<br />

esfingético, talvez uma nova fábula para um novo homem – um homem cuja<br />

metade inferior adquire forma de serpente. Um homem que é signo da<br />

vontade de potência virtual, um homem posta<strong>do</strong> no umbral a dizer como<br />

Artaud (2004, p. 254):<br />

Há signos no Pensamento. Nossa atitude de absur<strong>do</strong> e de morte é<br />

a da melhor receptividade. Através das fendas de uma realidade <strong>do</strong>ravante<br />

inviável, fala um mun<strong>do</strong> voluntariamente sibilino.<br />

Os Estu<strong>do</strong>s vertem das fendas. Delas surge um animal novo.<br />

Rompen<strong>do</strong> laços de servidão imaginária a céus abertos.<br />

Faz-nos não nos sentirmos captura<strong>do</strong>s em um campo/campus de<br />

poder circunscrito ao olhar panóptico, ou castra<strong>do</strong>r. O que se dá, então?<br />

Recorremos a uma fala indígena de Sabino Kaiabi (FERREIRA, 1995, p.<br />

146): “Olhar é ter força, ter poder”, “Olhar é ter controle da situação”. Essa<br />

não seria a lógica <strong>do</strong> olhar panóptico? No entanto, se localizarmos a fala de<br />

Sabino, pensamos que ele procede a uma espécie de reversão <strong>do</strong> olhar<br />

panóptico, entontecen<strong>do</strong>-o diante de sua sabe<strong>do</strong>ria sabina. É como se nós<br />

disséssemos: “Olhe no espelho, o espelho” (Ib.).<br />

Os Estu<strong>do</strong>s impelem-nos a esse olhar. Abrimos os olhos, como o fez<br />

a antropóloga, Mariana Ferreira, vemos “linhas de luz”, o espelho parti<strong>do</strong><br />

em nossas mãos. Não amansamos os espelhos.<br />

A preocupação com as origens da humanidade e da sociedade<br />

humana assegura sua permanência. Vale, com Benjamim, revigorar a<br />

dimensão <strong>do</strong> olhar, a capacidade de olhar perdida nas grandes cidades.<br />

Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser incita-nos a esse revigoramento, a<br />

um olhar atrás, um através, um olhar de retorno, não sabemos se a um

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