Download do livro - cchla - UFRN
Download do livro - cchla - UFRN
Download do livro - cchla - UFRN
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser 088<br />
Introdução<br />
*<br />
As primeiras palavras decerto demonstram um alto grau de<br />
intensidade <strong>do</strong> pensamento – enleva<strong>do</strong> em poucas frases. Isso quer dizer<br />
que muito pode ser dito com poucas orações. E há até certas vantagens em<br />
se utilizar disso. Mas não aqui. A iniciativa que agora se desvela é tarefa de<br />
1<br />
vontade . E é preciso que a coragem seja certeira potência e vida. Diante de<br />
uma realidade extremamente cambiante, será sobretu<strong>do</strong> uma tarefa árdua,<br />
qualquer tentativa de apreensão coerente das forças e disposições<br />
2<br />
dinâmicas que configuram a condição atual da humanidade .<br />
A existência humana na contemporaneidade está como que<br />
sufocada, ora acalentada pela resignação inconseqüente, ora torturada pela<br />
esperança desmedida. Um cenário cinzento e turvo ganha concretude na<br />
velocidade da luz fugidia. Só que não se trata mais <strong>do</strong> elemento primevo, tal<br />
como irradia, ofuscante e puramente na estrela. São as máquinas, cujas<br />
3<br />
luzes cintilam os paraísos artificializantes desses novos seres terrestres .<br />
Uma velocidade que suplanta o ritmo orgânico, destrói as expectativas de<br />
fuga <strong>do</strong>s corpos e aprisiona toques e olhares vazios, desconexos. Uma nova<br />
configuração de forças se impõe diante <strong>do</strong>s vivos. Uma forma inédita de<br />
totalidade social ganha movimento com o pleno funcionamento <strong>do</strong><br />
assombroso complexo mundial Machinapolis. – Aparelhos arquitetônicos<br />
de controle labiríntico, claustros cibernéticos, ciências de destruição,<br />
biopolíticas civilizatórias: são muitos os aspectos que compõem nosso<br />
4<br />
intento, nossa realidade .<br />
Conhecer a destruição de toda unidade coerente de sociedade, de<br />
toda tradição relacional cosmológica que se desmancha nos ares rarefeitos<br />
de Machinapolis, não é agradável a nosso paladar. Então surgem<br />
questionamentos. Vemos-nos diante de uma encruzilhada. Antes de<br />
perguntarmos o que fazer para sairmos dela, pensamos ser imprescindível<br />
tentar cartografar os movimentos históricos que antecederam a disposição<br />
material contemporânea.<br />
De início, constatamos to<strong>do</strong> um processo de descodificação <strong>do</strong>s<br />
5<br />
saberes , que de tão imperioso, foi capaz de realizar uma verdadeira<br />
viragem nas forças sociais, ultrapassan<strong>do</strong> assim certo limiar cosmológico,<br />
ao desfigurar as relações entre os seres enquanto as coisas e as palavras<br />
circulam artificialmente. Para nós, chegou o momento de se questionar<br />
sobre o que exatamente mu<strong>do</strong>u com a passagem dessa fronteira até então<br />
desconhecida da espécie humana, pois o que existia outrora em sua<br />
totalidade específica fora decepa<strong>do</strong> pela potência desagrega<strong>do</strong>ra da história