Download do livro - cchla - UFRN
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nos separa de nós mesmos, o que devemos transpor e atravessar para nos<br />
pensarmos a nós mesmos”; “opõe-se o tempo e a eternidade à nossa<br />
atualidade”. E de novo aparece com to<strong>do</strong> seu estron<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> nos diz que<br />
pensar se trata de um ato perigoso, ver e falar com a condição de que haja<br />
elevações, que haja elevações até regimes de visibilidades e regimes de<br />
enuncia<strong>do</strong>s nunca sequer sonha<strong>do</strong>s. Pois pensar, como crueldade que<br />
enfrenta o perigo, é força, pensar é estratégia, é estender relações de forças<br />
que constituem “ações sobre ações, atos (...). Incitar, induzir, desviar,<br />
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facilitar ou dificultar, ampliar ou limitar, tornar mais ou menos provável” .<br />
Dessa maneira, apresenta-se uma existência que já nem pode<br />
contar com o sujeito em termos de ego ou eu, mas com um certo movimento<br />
múltiplo de subjetivação, que pode fazer <strong>do</strong>s seres e suas relações, obras de<br />
arte. É a descoberta <strong>do</strong> pensamento como processo de subjetivação que<br />
constrói mo<strong>do</strong>s de existência, que inventa novas possibilidades de vida,<br />
onde nada preexiste nem os caminhos estão traça<strong>do</strong>s, onde os abalos e as<br />
quedas se experimentam, fazem-se facultativos, produzem transmutações.<br />
Para Deleuze, no filósofo, impressionam a voz, os olhos, a estatura reta<br />
entre os <strong>do</strong>is; clarões e cintilações, sussurros e enuncia<strong>do</strong>s arranca<strong>do</strong>s na<br />
violência da alma, mesmo o riso como enuncia<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong>-se a expressão e<br />
a enunciação a um extremo limite, elevan<strong>do</strong>-se à 'potência <strong>do</strong> indizível'.<br />
E aí se pode pensar na relação, que é também não relação, que se<br />
estabelece com um fora, “mais longínquo que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior, por isso,<br />
mais próximo que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> interior”. Este é o lugar e o espaço da<br />
conversão <strong>do</strong>s estatutos <strong>do</strong> visível e <strong>do</strong> enunciável, da transmutação de<br />
valores, da inversão sobre a 'linha de fora', a “prova de Vida ou de Morte, a<br />
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<strong>do</strong>bra e a des<strong>do</strong>bra, enfim, a base <strong>do</strong> processo de subjetivação” . E a<br />
subjetivação, diferenciação no ser, corresponde a uma dimensão distinta<br />
tanto <strong>do</strong> saber quanto <strong>do</strong> poder. Pergunta Deleuze – como também faz<br />
Foucault quan<strong>do</strong> empreende a viagem <strong>do</strong>s usos <strong>do</strong>s prazeres e os cuida<strong>do</strong>s<br />
de si, onde viu de perto a <strong>do</strong>bra <strong>do</strong>s gregos: que lugares e que seres nos<br />
daremos para que o re<strong>do</strong>brar-se de si para si, <strong>do</strong>bran<strong>do</strong> as forças, curvan<strong>do</strong><br />
e transpon<strong>do</strong> as linhas de forças a ultrapassar o poder, possam criar a<br />
Dobra? A relação das forças consigo, relações de forças duplicadas,<br />
<strong>do</strong>bregadas, a viragem das forças de si consigo mesmas que permitam<br />
resistir, revoltar-se, furtar-se, fazer a vida ou a morte voltar-se contra o<br />
poder? Na resposta, confirma-se o que Nietzsche atribuía à operação artista<br />
da vontade de potência: a invenção de novas formas de vida, novos mo<strong>do</strong>s<br />
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de ser e existir .<br />
Lucas Fortunato | Edson Gonçalves Filho | Lisandro Loreto 299