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Machinapolis e a Caosmologia <strong>do</strong> Ser 298<br />
perigoso e longo exercício de auto<strong>do</strong>mínio, desde onde se retorna outra<br />
pessoa; sobretu<strong>do</strong>, com uma vontade de questionar mais profundamente,<br />
severamente, mal<strong>do</strong>samente, silenciosamente: sim, agora é a própria vida<br />
que se torna um problema, a confiança nela se foi, e ama-se de maneira<br />
diferente; há de retornar das trevas conhecen<strong>do</strong> novas felicidades, alegrias<br />
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grandiosas e indizíveis, poesias feitas atos <strong>do</strong>s corpos em vida .<br />
Por isso Nietzsche afirma que são médicos filósofos – no senti<strong>do</strong><br />
excepcional da expressão – os que vão colocar com severidade a questão<br />
<strong>do</strong> valor da vida e <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da existência – em termos de saúde, de uma<br />
raça, de um povo, de uma época, da humanidade – e são os que<br />
justamente vão questionar se o problema da Filosofia não seria antes<br />
problema de saúde e <strong>do</strong>ença, de ascensão ou decadência da própria vida...<br />
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Não o problema da 'verdade' .<br />
Talvez ainda não bastem as palavras de Nietzsche expressas no<br />
Prólogo de sua A Gaia Ciência: “Por fim, para que o essencial não deixe de<br />
ser registra<strong>do</strong>: de tais abismos, de tal severa enfermidade, também da<br />
enfermidade da grave suspeita voltamos renasci<strong>do</strong>s, de pele mudada, mais<br />
suscetíveis, mais mal<strong>do</strong>sos, com gosto mais sutil para a alegria (...)”. No<br />
final, acrescenta que os convalescentes precisam de uma arte, mas outra<br />
arte: uma arte para artistas que seja somente para eles, tratan<strong>do</strong>-se de<br />
aprender a bem esquecer, a bem não saber, como artistas, com jovialidade,<br />
com espírito ligeiro, zombeteiro, ao mesmo tempo guerreiro e alegre,<br />
escandaloso mas profun<strong>do</strong>.<br />
Essa arte deveria permanecer divinamente imperturbada,<br />
divinamente artificial, e o conceito ganha profundidade quan<strong>do</strong> se<br />
mencionam os gregos, que entendiam <strong>do</strong> viver: “Para isto é necessário<br />
permanecer valentemente na superfície, na <strong>do</strong>bra, na pele, a<strong>do</strong>rar a<br />
aparência, acreditar em formas, em tons, em palavras, em to<strong>do</strong> o Olimpo da<br />
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aparência! Esses gregos eram superficiais – por profundidade!” . E entre as<br />
últimas perguntas percebemos de novo. Artistas temerários <strong>do</strong> espírito<br />
escalam os cumes mais eleva<strong>do</strong>s e desbravam os subterrâneos mais<br />
perigosos, encara<strong>do</strong>s sempre pelo pensamento-ação, no espaço e no<br />
tempo, virtual presente, virtual passa<strong>do</strong>, virtual futuro. O cria<strong>do</strong>r sempre<br />
está no intermezzo, também atualizan<strong>do</strong>-se nas superfícies, nas linhas de<br />
<strong>do</strong>bras, nos vetores em fuga, nas desterritorializações absolutas, nas cristas<br />
das ondas das noma<strong>do</strong>logias...<br />
Deleuze também mostrou como “não há grande pensa<strong>do</strong>r que não<br />
passe por crises, elas marcam o compasso de seu pensamento”. “A história