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anpuh.s02 - Associação Nacional de História

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almente os roceiros morrem primeiro; para não morrerem, buscam<br />

áreas não atingidas pelo flagelo, que é, confrontado com as condições<br />

(por exemplo) do sul, quase permanente. No entanto, não só os roceiros<br />

emigram: também os fazen<strong>de</strong>iros, acossados pelas condições<br />

adversas do meio, ven<strong>de</strong>m suas proprieda<strong>de</strong>s e atiram-se à busca <strong>de</strong><br />

novas condições, principalmente no norte <strong>de</strong> Minas, em Goiás e Mato<br />

Grosso.<br />

O que ocorre é que o fazen<strong>de</strong>iro não é, como po<strong>de</strong>ria parecer, necessàriamente<br />

o explorador do roceiro, nas áreas mais sêcas; êle é,<br />

não raro, seu companheiro <strong>de</strong> infortúnio. Tomamos conhecimento <strong>de</strong><br />

alguns inventários <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iros, o mais antigo dos quais processado<br />

em 1952 e o último em 1955. O mais "rico" dêles teve o total <strong>de</strong><br />

seus bens avaliados em 5,5 milhões <strong>de</strong> cruzeiros, e o mais pobre em<br />

800 mil cruzeiros. Meios tão mo<strong>de</strong>stos em uma região como o Nor<strong>de</strong>ste<br />

não são capazes <strong>de</strong> uma renda sequer assemelhável à <strong>de</strong> um funcionário<br />

<strong>de</strong> nível universitário do govêrno fe<strong>de</strong>ral.<br />

Assim, um plano <strong>de</strong> reformulação da exploração da terra naquela<br />

área teria que ter como objetivo essencial a fixação do homem ao<br />

s610, através o estabelecimento <strong>de</strong> meios óbvios que evitassem as<br />

migrações forçadas dos pequenos agricultores e o empobrecimento<br />

continuado do ali chamado fazen<strong>de</strong>iro. Não vemos como o aumento<br />

das pequenas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stinadas à lavoura po<strong>de</strong>ria acaso auxiliar<br />

uma solução <strong>de</strong>ssas, porque a lavoura ali é impossível em têrmos<br />

extensivos e, por enquanto, <strong>de</strong> resultados nulos, se praticada intensivamente.<br />

Ao contrário do que se possa imaginar, o hectare <strong>de</strong><br />

terra <strong>de</strong> sôltas (pastagens livres) naquela área, em 1962, nem sempre<br />

atinge o valor <strong>de</strong> C1"$100,OO; e quando êste trabalho foi originalmente<br />

escrito, não valia sempre Cr$ 40,00. Conseqüentemente, o fazen<strong>de</strong>iro<br />

é apenas ligeiramente menos pobre do que o roceiro, se compararmos<br />

a situação <strong>de</strong> ambos com, por exemplo, a <strong>de</strong> um industrial paulista<br />

com a <strong>de</strong> seu operáriO.<br />

Cabe ainda advertir: estas conclusões não são <strong>de</strong> todo novas.<br />

De fato. são confirmações <strong>de</strong> observações anteriores, empíricas mas<br />

certamente mais agudas, amplamente reveladas por escritores que<br />

não se <strong>de</strong>dicaram aos estudos históricos ou sociológicos, mas que, com<br />

a visualização perspicaz dos problemas daquela área, pu<strong>de</strong>ram escrever<br />

coisas como estas:<br />

"A divisão das terras seria um <strong>de</strong>sastre na zona <strong>de</strong> criação do<br />

Nor<strong>de</strong>ste. Ai a terra vale pouco e pràticamente não tem dono; a riqueza<br />

é constituída por açu<strong>de</strong>s. casas. currais. gado. O espaço <strong>de</strong> que<br />

um animal necessita para alimentar-se na vegetação rala <strong>de</strong> cardo<br />

e favela que veste a planície queimada é enorme. E a ma<strong>de</strong>ira indispensável<br />

para estabelecer limites escasseia: as raras cêrcas são <strong>de</strong><br />

ordinário feitas <strong>de</strong> ramos sêcos ou <strong>de</strong> pedras sôltas. Quase nenhuma<br />

lavoura: apenas touceiras <strong>de</strong> milho sêco, um triste feijoal e aboboreiras<br />

amarelando na vazante dos rios periódicos. Se se oferecesse ao

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