anpuh.s02 - Associação Nacional de História
anpuh.s02 - Associação Nacional de História
anpuh.s02 - Associação Nacional de História
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
libertar-se <strong>de</strong>las. A situação peorava quando a Administração da fazenda<br />
<strong>de</strong>sejosa <strong>de</strong> auferir o máximo do colono, cobrava preços <strong>de</strong>masiadamente<br />
altos pelos gêneros que êste necessitava, oprimindo-o<br />
econômicamente, reduzindo-o a um estado <strong>de</strong> semi-escravidão. Com<br />
o objetivo primordial <strong>de</strong> fixar o homem à terra êste sistema <strong>de</strong> endividamento<br />
do homem do campo, pelo empresário, continuou aliás<br />
sendo regra geral em vários tipos <strong>de</strong> explorações econômicas no Brasil<br />
Imperial e Republicano. Com isso conseguia o empresário: fazen<strong>de</strong>iro<br />
<strong>de</strong> café, <strong>de</strong> mate ou seringueiro, manter o trabalhador num<br />
estado <strong>de</strong> servidão.<br />
Ao colono como vimos, não interessava em geral, a formação <strong>de</strong><br />
um cafezal, a não ser que se lhe fôsse atribuida uma outra área em<br />
franca produção. Cafezais praguejados ou <strong>de</strong> baixa produção também<br />
davam motivo a queixas. Via <strong>de</strong> regra o interêsse do fazen<strong>de</strong>iro estava<br />
exatamente em atribuir ao colono, - com quem <strong>de</strong>via dividir a<br />
produção - cafezais <strong>de</strong> baixa produção, reservando para os escravos<br />
a melhor parte dos seus cafezais. O choque <strong>de</strong> interêsses provocava<br />
mal estar e revolta entre os imigrantes. A maior parte das vêzes via-se<br />
êste, também, cerceado na sua iniciativa <strong>de</strong> cultivar gêneros <strong>de</strong> primeira<br />
necessida<strong>de</strong> (64), pois julgava-se que não só isso resultaria<br />
num <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra <strong>de</strong>stinada aos cafezais para outras ativida<strong>de</strong>s,<br />
como po<strong>de</strong>ria possibilitar ao colono uma rápida emancipação,<br />
contrária, muitas vêzes aos interêsses do fazen<strong>de</strong>iro, pagas suas dívidas,<br />
o colono abandonava as fazendas (65). Outras vêzes a distância<br />
em que as fazendas se encontravam dos sítios urbanos, prejudicava a<br />
venda dos víveres, quando não era o fazen<strong>de</strong>iro que isso impedia,<br />
temeroso <strong>de</strong> ver os colonos abandonarem os cafezais <strong>de</strong>dicando-se<br />
apenas ao plantio <strong>de</strong> legumes ou cereais.<br />
Outro motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento por parte dos colonos era o<br />
sistema <strong>de</strong> contas feito para <strong>de</strong>duzir sua parcela <strong>de</strong> lucro sôbre a<br />
produção <strong>de</strong> café obtida. Rezavam os contratos que vendido o café<br />
caberia ao colono a meta<strong>de</strong> do seu lucro líqUido. Ora o cálculo das<br />
<strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> beneficiamento, transporte e impostos vários. Na maior<br />
parte das vêzes os colonos sentiam-se, com ou sem razão, roubados.<br />
Foram tais as queixas que acabou-se em geral por estabelecer o pagamento<br />
ao colono <strong>de</strong> um preço fixo por alqueire. Transitava-se assim<br />
insensivelmente para outras soluções, que posteriormente se firmarão<br />
como mais a<strong>de</strong>quadas ao tipo <strong>de</strong> economia cafeeira, e que substituirão<br />
<strong>de</strong>finitivamente êste sistema <strong>de</strong> parceria pelo trabalho assalariado.<br />
Para êsse <strong>de</strong>scontentamento e suspeitas também contribuía a instabilida<strong>de</strong><br />
da safra cafeeira que sofria gran<strong>de</strong>s oscilações <strong>de</strong> ano para<br />
ano (66).<br />
Muitos outros obstáculos somaram:..se a êstes, convertendo o regime<br />
<strong>de</strong> parceria numa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>silusão para o imigrante que <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que podia abandonava o campo pela cida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>sadaptação ao<br />
meio rural tropical, ao clima e aos hábitos locais, a cláusula contratual<br />
da responsabilida<strong>de</strong> coletiva pela qual tôda a família era consi<strong>de</strong>rada<br />
responsável solidàriamente pelas dívidas <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus mem-<br />
288