A energia nuclear em debate A energia nuclear em debate - IEE/USP
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Sob este mesmo ponto vista ambiental, e como contraponto a esta preconizada ação de atenuação do aquecimento<br />
global, deve-se ressaltar no passado recente diversos eventos como vazamentos de material radioativo pelas<br />
varetas que acondicionam o combustível físsil no interior do reator <strong>nuclear</strong>, ou falhas no manuseio do material. O futuro<br />
descomissionamento das usinas <strong>nuclear</strong>es também apresenta probl<strong>em</strong>as, pois na maioria dos países não existe um plano<br />
de ação para o período posterior à paralisação completa das usinas. Ainda, os probl<strong>em</strong>as se estend<strong>em</strong> à disposição final<br />
dos rejeitos de alta radioatividade, além de falhas frequentes nos planos de <strong>em</strong>ergência <strong>em</strong> caso de acidente.<br />
A esse respeito, os acidentes na usina americana Three Mile Island (1979) e Chernobyl (1986) na Ucrânia não<br />
dev<strong>em</strong> ser desconsiderados quando se discute a segurança destes reatores.<br />
Por fim, a questão política que envolve o <strong>debate</strong> sobre a <strong>energia</strong> <strong>nuclear</strong> deve ser também ressaltada. Em cada<br />
um dos países que hoje estão rediscutindo seus programas <strong>nuclear</strong>es, é essencial que os canais de participação neste<br />
<strong>debate</strong> e no processo de decisão estejam abertos para a massiva participação informada da sociedade. No Brasil, a<br />
decisão sobre a retomada do programa <strong>nuclear</strong> está no Conselho Nacional de Política Energética, s<strong>em</strong> a participação<br />
de uma representação da sociedade civil, <strong>em</strong>bora esta presença seja prevista nos seus estatutos.<br />
Cabe assinalar que o principal argumento que t<strong>em</strong> sido utilizado para preconizar a continuidade do Programa<br />
Nuclear no nosso país aponta como “ponto favorável” o fato de possuirmos a sexta maior reserva mundial de urânio<br />
(cerca de 300 mil toneladas), suficiente para nos assegurar a independência no suprimento de combustível por muito<br />
t<strong>em</strong>po. Outro argumento reside na necessidade do Brasil diversificar a sua matriz de produção de eletricidade.<br />
Foi nesta perspectiva que, recent<strong>em</strong>ente, o ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende anunciou a reativação<br />
do programa <strong>nuclear</strong> brasileiro, estabelecendo no Plano Nacional de Energia Nuclear a construção de sete usinas,<br />
duas delas a ser<strong>em</strong> instaladas no Nordeste, às márgens do rio São Francisco.<br />
Não faltam ainda, argumentos políticos que levantam uma pretensa necessidade do Estado do Rio de Janeiro<br />
(onde está instalado o complexo <strong>nuclear</strong> de Angra dos Reis) alcançar uma “autonomia” energética, derivada do fato<br />
de que sua d<strong>em</strong>anda por eletricidade é dependente de uma pseudo “importação” de <strong>energia</strong> de outros estados.<br />
O presente artigo foi elaborado com o objetivo de fornecer ao grande público informações históricas sobre a<br />
trajetória da <strong>energia</strong> <strong>nuclear</strong> no país, os probl<strong>em</strong>as que envolv<strong>em</strong> as atividades <strong>nuclear</strong>es, onde as questões econômicas<br />
e tecnológicas se misturam com as questões políticas e estratégicas, e cujas consequências têm permanecido distantes<br />
do conhecimento e compreensão da sociedade brasileira.<br />
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