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A energia nuclear em debate A energia nuclear em debate - IEE/USP

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A tática b<strong>em</strong> sucedida de distração pode acalmar o <strong>debate</strong> público. Mas não<br />

reduz a probabilidade de um desastre <strong>nuclear</strong>. O risco de um grande acidente – um<br />

que ultrapasse o pior acidente imaginado para o qual o sist<strong>em</strong>a de segurança foi projetado<br />

– combinado com o fato que este risco nunca poderá ser excluído, s<strong>em</strong>pre será<br />

a fonte primordial do conflito sobre a <strong>energia</strong> <strong>nuclear</strong>. Constitui <strong>em</strong> última instância,<br />

a base para todos os argumentos contra esta forma de conversão de <strong>energia</strong>. A<br />

aceitação – regional, nacional e global – se garante ou cai por conta desse risco. Desde<br />

Harrisburg, e mais ainda, desde Chernobil, a indústria <strong>nuclear</strong> veicula a promessa de<br />

reatores <strong>nuclear</strong>es à prova de acidente, como forma de reconquistar a aceitação do<br />

público. Há um quarto de século, os construtores de reatores formulavam a mesma<br />

promessa no vocabulário criptografado de “usina de <strong>energia</strong> <strong>nuclear</strong> inerent<strong>em</strong>ente<br />

segura”. Os americanos chamavam esses projetos de reatores “walk-away” (alusão à<br />

perspectiva de “sair andando” de um acidente), e afirmavam que a possibilidade de<br />

um núcleo derretido, ou de algum outro acidente grave, poderia ser fisicamente<br />

excluída. “Mesmo no caso do pior de todos os acidentes concebíveis,” vociferava o vice<br />

presidente de uma vendedora de reatores norte-americana na época, “você poderia ir<br />

para casa, almoçar, tirar uma soneca e depois voltar e cuidar do caso – s<strong>em</strong> o mínimo<br />

de preocupação ou pânico.” 1 Aquela grandiosa declaração continua sendo o que<br />

era então: uma promissória não cobrada contra o futuro. Em 1986, o historiador<br />

al<strong>em</strong>ão da tecnologia Joachim Radkau já sugeria que a usina <strong>nuclear</strong> a prova de acidente<br />

era “uma promessa de mundos e fundos feita <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos de crise mas nunca<br />

cumprida.” 2<br />

1 Citado <strong>em</strong> Peter Miller, "A<br />

Comeback for Nuclear Power? Our<br />

Electric Future", na revista National<br />

Geographic, agosto de 1991, p. 60-<br />

89. (Nota do tradutor: Traduzido do<br />

al<strong>em</strong>ão para o inglês, e depois para o<br />

português).<br />

2 "Chernobyl in Deutschland?" in<br />

Spiegel 20/1986; pp. 35-36.<br />

A Comunidade Européia de Energia Atômica (Euratom) e dez países que possu<strong>em</strong><br />

usinas <strong>nuclear</strong>es ativas já falam <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> neutra da “4ª. Geração”, ao se<br />

referir<strong>em</strong> ao futuro da tecnologia de reatores. Esta próxima série de reatores,<br />

equipados com sist<strong>em</strong>as inovadores de segurança, não promete mais ser à prova de<br />

imbecis, como seus antecessores que nunca se concretizaram. Mas é promovida<br />

como mais econômica, menor, menos suscetível a abusos militares, e portanto, mais<br />

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