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100<br />

:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

promoveu uma mudança nos padrões dramáticos hegemônicos. É como<br />

se toda a vanguarda européia tivesse reconhecido que o projeto de<br />

autonomia do sujeito contivesse algo de mentira numa época de homens<br />

animalizados ou fracionados pelas guerras. Era preciso experimentar<br />

formas novas <strong>para</strong> além do drama dos agentes e do diálogo inter-subjetivo.<br />

Houve, assim, um amplo experimento com formas novas <strong>para</strong> além dos<br />

padrões ideológicos da representação burguesa do século XIX. No Brasil,<br />

esse movimento foi percebido com entusiasmo. Nosso atraso, finalmente,<br />

parecia ter alguma vantagem. Quando lemos os estudos teatrais de um<br />

jovem escritor como Antônio de Alcântara Machado, crítico paulista dos<br />

anos 20, ou as tentativas teatrais do Oswald de Andrade e do Mário de<br />

Andrade, percebemos neles um impulso antiburguês (às vezes, de índole<br />

aristocrática) que por vezes aponta um caminho produtivo de diálogo<br />

com nossa matéria social pela junção entre atitudes de vanguarda e de<br />

sondagem da vida popular. Essa combinação de experimentalismo e busca<br />

do popular (ao mesmo tempo aburguesada no seu desejo de identificação<br />

povo-nação e antiburguesa na exposição da mentira do sujeito autônomo)<br />

foi de certo modo emprestada da estética primitivista das vanguardas<br />

européias e reinventada <strong>aqui</strong>. Mesmo um artista que não era exatamente<br />

um homem de esquerda, como o Mário de Andrade, converte seu instinto<br />

antiburguês da Semana de Arte Moderna num projeto crítico maior, ao<br />

perceber que nas formas populares havia um elemento de contestação, algo<br />

de uma vida coletiva mais crítica que a sociedade burguesa não permitia.<br />

É lógico que existem também razões muito conservadoras no interesse<br />

dos modernistas pela arte popular. Era o ambiente da civilização do café,<br />

patrocinado por <strong>Paulo</strong> Prado, uma sociedade culta de cafeicultores que<br />

desprezavam o arrivismo de uma burguesia que lhes parecia uma classe<br />

nova e predatória. Era o ambiente de uma São <strong>Paulo</strong> quatrocentona, que<br />

preferia localizar suas matrizes nos bandeirantes, nos supostos brasileiros<br />

do passado rural, idealizando esse mundo arcaico. A capacidade de<br />

trabalho e a politização do tempo fizeram com que se superasse esse<br />

<strong>para</strong>doxo: um impulso conservador, tradicionalista e regressivo se associa<br />

a uma atitude antiburguesa. O resultado, inesperado, e devedor do<br />

talento desses escritores, foi uma disposição experimental produtiva. Foi<br />

essa geração que intuiu um teatro mais radical (nas peças de Oswald de<br />

Andrade, no Café de Mário de Andrade, na crítica de Alcântara Machado)

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