19.04.2014 Views

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

50<br />

As melhores encenações que eu fiz de textos que eu criei e ofereci a<br />

diretores ou atores foram profundamente mudadas ao longo do espetáculo.<br />

Porque são inteligências. A inteligência gestual do ator, a inteligência<br />

espacial do diretor não é a mesma que você tem quando escreve. Então,<br />

você é contaminado por isso. Se as pessoas estão de fato empenhadas em<br />

produzir o melhor resultado da sua idéia, é comum – na minha experiência<br />

é absolutamente comum – mexer num texto que eu considerava pronto<br />

enquanto a encenação acontecia. Sem contar do que o ator se apropria<br />

a partir daí também. No caso do Apocalipse, foi considerável a mudança<br />

no texto depois que ele saiu das minhas mãos. Como eu não estava<br />

em cena <strong>para</strong> defender ou ampliar <strong>para</strong> algum lado, o texto continuou<br />

sendo reprocessado, e incluídas as referências externas a ele depois de<br />

considerado pronto. Ele já foi encenado, de modo diferente, depois de<br />

publicado num livro da Publifolha. Essa é a dinâmica boa quando dá<br />

certo. Quando você consegue fazer um espetáculo que, de algum modo,<br />

conversa com o real, o bacana é que o real vai ser sempre permeável a<br />

ele. Vai ter um espaço <strong>para</strong> o real entrar e ser processado pela criação.<br />

Mas a diferença básica é que, quando você colabora, você pensa depois.<br />

Primeiro, você tem que abrir os olhos e os ouvidos e fechar a boca; ouvir o<br />

que as pessoas estão criando e oferecendo <strong>para</strong> você, e pensar. Eu não sou<br />

generoso, sou vaidoso pra caralho, mas não gozo com o pau dos outros...<br />

Então, o cara me oferece uma série de coisas que eu preciso conhecer,<br />

preciso saber de onde vem. A partir daí, produzo uma reflexão e ofereço<br />

pra ele. No Apocalipse, havia gestos que eu adorava e dizia: Esse texto é<br />

uma bosta, e eu dava um texto. Ou o contrário; o cara me dizia: O meu<br />

gesto é bom, o seu texto é uma bosta. E freqüentemente essas relações<br />

acabaram mal do ponto de vista pessoal porque elas são muito fortes.<br />

Quando elas acabam mal, os espetáculos ficam bem.<br />

Cássio Pires – Boa-noite. Estou em uma mesa com este tema <strong>para</strong><br />

falar de uma perspectiva um pouco diferente da do Bonassi porque eu não<br />

tenho muita experiência com o processo colaborativo, com dramaturgia<br />

interativa. Comecei a escrever <strong>para</strong> teatro há coisa de uns cinco anos, e,<br />

no comecinho, tive alguns flertes com o processo colaborativo e com a<br />

dramaturgia nos moldes dos “velhos tempos”, dramaturgia de gabinete:<br />

sentar, escrever uma peça. Comecei a perceber que eu me sentia mais feliz

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!