clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />
46<br />
Eu tenho uma primeira dificuldade que é me agregar a coletivos que<br />
não são coletivos formados que me incorporaram por vontade deles,<br />
freqüentemente. Sou contratado ou chamado <strong>para</strong> participar disso, quer<br />
dizer, os grupos já existiam antes. Neste caso, isso cria uma dificuldade<br />
inicial. Todo mundo que transa teatro sabe o que é formar um coletivo<br />
chamado grupo de teatro, que sempre tende à desagregação, às disputas<br />
internas, às complexidades da vida, do fazer teatro no Brasil, em São<br />
<strong>Paulo</strong>, cada vez mais complicado. Em regimes de trabalho onde há muita<br />
gente, há menos dinheiro, portanto ele é dividido, nas experiências que<br />
eu tive, fraternalmente porque é um processo de trabalho em que todo<br />
mundo é autor, todo mundo se mete no texto, todo mundo constrói<br />
alguma coisa. Tem havido, por parte dos atores, certo interesse em dizer<br />
seu próprio texto, construir sua própria cena por mais que haja peças<br />
publicadas. Não ser um pau-mandado de diretor, uma bengala que ele bate<br />
nas costas. Ainda existe num modelo de teatro que não me interessa, a<br />
gente está falando de um modelo de produção em que todo mundo é autor<br />
de fato. Como acontece? Pactua-se um tema. Supondo que o coletivo já<br />
existe, ou que o coletivo se forma, o que é importante? O tema. Sobre o<br />
que iremos falar? Parece óbvio, mas nem sempre as pessoas têm o foco<br />
disso. Cabe também ao dramaturgo nessa situação ir limpando as arestas,<br />
promovendo e investigando esse foco com as outras pessoas envolvidas.<br />
Pactuado o tema (no Apocalipse, eram impressões de fim de mundo; em<br />
Danton, eram críticas ao comportamento da esquerda, que sempre fazia<br />
a revolução mas nunca governava; e no caso do Linhas Aéreas era um<br />
desejo de se dar suporte físico à literatura), é preciso que se leia. O que<br />
eu chamo de tema é uma mistura de tema com linguagem, com uma certa<br />
energia, uma vibração, um interesse comum às pessoas. Nos três trabalhos,<br />
partilharam-se leituras porque o conhecimento histórico em torno do tema<br />
permite um espaço de criação, uma fertilização da mente, de maneira que<br />
quando a gente entra em processo de improvisação, todo mundo partilha<br />
a mesma freqüência. No Apocalipse, quando se dizia vamos fazer a cena<br />
do juízo final, todos sabiam mais ou menos do que se falava. Não era um<br />
julgamento qualquer; era um julgamento que tinha relação com a Bíblia,<br />
mas ao mesmo tempo era um julgamento do judiciário, e assim por diante.<br />
Havia uma pegada comum, um ódio comum às injustiças quando se falava<br />
de justiça. Tudo foi lido num primeiro momento. Minha experiência com