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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

68<br />

descrição, imaginando que faria um roteiro. Ficou reduzido a um oitavo<br />

porque, no século XIX, o neguinho tinha que descrever a cor da parede, a<br />

cor da porta, a maçaneta... Hoje, o Bortolotto escreve que fulano entra na<br />

sala e senta, e todo mundo sabe o que é. Temos um patrimônio de gestos<br />

e de idéias que nos permite ser justamente mais lisos com o que é real.<br />

Partir <strong>para</strong> outras alternativas, alternativas psiquiátricas de texto, não<br />

psicológicas. É importante dizer isso porque minha tarefa não é a do cara<br />

que aprende uma técnica e depois desenvolve, aperfeiçoa uma canaleta<br />

da vida. A experiência da arte é mais arrebatadora do que o pensamento.<br />

Nisso eu concordo com o Samir. O pensamento não ajuda, mas a disciplina<br />

criativa, de perseguir o seu objetivo, seja ele qual for, funciona. E isso<br />

funda sua forma; quando é bom, cada um encontra a forma. Acho terrível:<br />

Puta, tenho uma boa idéia <strong>aqui</strong>, tem uma coisa fervendo nessas pessoas,<br />

nesse encontro, algo que se lê no jornal... O próximo pensamento é: Como<br />

é que eu conto uma história? Estou com o saco cheio de ouvir história.<br />

Pra mim, história é telenovela. É uma idiota a fim de casar e um imbecil a<br />

fim de fazer um milhão de dólares. É a isso que foi reduzida a dramaturgia<br />

de televisão, o que está amesquinhando a população brasileira porque<br />

não tem outra forma de ver histórias. Prefiro ver exorcismo de evangélico<br />

porque tem uma força cênica maior do que a telenovela. Descolado do<br />

aspecto religioso, tem.<br />

Samir Yazbek – Bonassi, tem que tomar cuidado com o seguinte:<br />

você pode não saber exatamente o que você sabe. Quando você procura o<br />

seu caminho de fundar uma forma a partir da necessidade de dizer algo,<br />

tem muita coisa que está por trás de você, que é o seu repertório. A gente<br />

precisa tomar cuidado quando diz isso em público. Você pode falar por<br />

quê? Porque você conhece isso, isso e isso e não se dá nem ao trabalho de<br />

pensar no que conhece porque já está dentro de você. Quando você quer<br />

subverter, sua necessidade de subverter às vezes faz com que você chegue<br />

a determinado resultado por conta do que já sabe, por conta do que você<br />

já leu, por conta do seu repertório.<br />

Fernando Bonassi – O meu medo é exatamente o seu, só que<br />

invertido. Se começarmos a postular regras, a gente afasta as pessoas da<br />

literatura.

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