19.04.2014 Views

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

Que tipo de exercícios são propostos <strong>para</strong> que a criação dos atores<br />

se transforme em material <strong>para</strong> o autor? Todos nós lemos um grande<br />

conteúdo de livros sobre o fim do mundo no caso do Apocalipse. Quando a<br />

gente está pedindo alguma coisa – um personagem ou um elo narrativo –<br />

todo mundo sabe mais ou menos o ambiente, o índice cultural partilhado<br />

por todos. Então, a produção de cenas e de palavras acontece dentro<br />

da freqüência que foi pactuada, estudando, lendo essas histórias. Havia<br />

desafios específicos, cenas sem palavras ou cenas faladas, e assim por<br />

diante. Dependendo das necessidades que o grupo de criadores via no<br />

espetáculo <strong>para</strong> contar a história do julgamento dos vivos, no Apocalipse, a<br />

gente produzia improvisações e escolhia as melhores. O critério era a mais<br />

poderosa, bonita, forte, inteligente, criativa, segundo nossa concepção.<br />

48<br />

Como se dá a distribuição das funções dentro do grupo? Apesar dos<br />

atritos, eu tive experiências bastante comunitárias do que seja a criação.<br />

Não me sinto autor dos espetáculos. Fui obrigado a engolir textos que<br />

não me agradam porque faço parte da maioria, e o pacto coletivo era<br />

fechado com a maioria. No Apocalipse, <strong>para</strong> mim o espetáculo acabava<br />

no momento em que o juiz do juízo final se matava, e não tinha o texto<br />

bíblico que se refere a Nova Jerusalém, que é o encontro do <strong>para</strong>íso.<br />

Apesar de ateu e de não acreditar em qualquer espécie de vida após a<br />

morte, fui desafiado pelo Antônio Araújo a produzir uma visão teatral<br />

dessa impressão do mundo, desse desejo do mundo d<strong>aqui</strong> <strong>para</strong> com o<br />

outro, a existência de redenção, de <strong>para</strong>íso. E construímos uma cena que,<br />

mal ou bem, atende a ateus e religiosos, que fala da possibilidade de<br />

uma se<strong>para</strong>ção entre homem e divindade, <strong>para</strong> mim, que sou ateu, e de<br />

encontro com a divindade, <strong>para</strong> quem não era.<br />

O que achei esquisito no que a Ana disse é que essas pessoas teriam<br />

um papel mais autoral... No caso, esse trabalho requer um outro tipo de<br />

autor. Não me sinto autor do que fiz, no entanto, divido com mais dez<br />

pessoas. Não me sinto o único autor; não gosto de tudo o que está lá, no<br />

entanto, sim, eu respondo pelo espetáculo. Só <strong>para</strong> estabelecer uma linha<br />

histórica, a diferença da gente <strong>para</strong> as gerações anteriores é que existe a<br />

figura do dramaturgo, pois até o meio dos anos 70, na época de ouro da<br />

performance, os escritores tinham sido banidos da cena teatral. Apesar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!