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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />
da imposição do capitalismo ao mundo expressa valores extremamente<br />
antigos e ultrapassados. Embora os valores patriarcais sejam importantes,<br />
existe uma outra série de valores que estão perdidos, subjacentes por aí,<br />
mas presentes, de forma viva, na cultura popular: uma cultura cíclica, uma<br />
cultura ambivalente.<br />
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Ultimamente, estou envolvido, tanto no teatro como em outras<br />
linguagens, com o universo da criança e do adolescente. Nas pesquisas<br />
que desenvolvo, é perceptível o quanto a cultura da criança está ligada à<br />
própria cultura popular, já que o modelo patriarcal optou pela figura do<br />
guerreiro expansionista, esquecendo por completo a figura da criança,<br />
intimamente ligada à figura feminina. A figura feminina e a figura da<br />
criança, ou as suas ocorrências, que são o jogo, a brincadeira e a festa,<br />
estão bastante ligadas à cultura anterior à própria cultura patriarcal, ao<br />
estabelecimento da cultura patriarcal como visão única de mundo. Meu<br />
trabalho é uma reflexão que está passando mais por aí. Quando vou buscar<br />
a cultura popular, não o faço dentro da visão de uma cultura erudita<br />
porque, segundo a globalização, nem a cultura erudita tem mais sentido.<br />
Não é cultura erudita, não é cultura popular, no entanto, são valores<br />
tanto de uma quanto de outra, grandes valores que merecem ser revistos<br />
de maneira mais ampla. A cultura popular tem que ser revista como cultura<br />
anterior, mítica, uma visão de mundo coletiva, aberta, abrigadora, sem<br />
ser excludente, como a gente observa no mundo em que vivemos.<br />
Sérgio de Carvalho – Boa-noite. Vou fazer alguns comentários gerais<br />
sobre o tema da escrita dramatúrgica contemporânea no Brasil com base<br />
no trabalho da Companhia do Latão. A primeira questão que me ocorre<br />
é que o modo contemporâneo de representar a nossa sociedade – de<br />
representar a vida como ela é ou como ela não deveria ser – não envolve<br />
somente aspectos temáticos. A constatação, mais ou menos óbvia, já<br />
foi feita pelo nosso maior escritor, Machado de Assis, no século XIX:<br />
não basta apresentar em cena um tema brasileiro <strong>para</strong> expressar algo<br />
que se possa chamar sem muita injustiça de “realidade” no Brasil. Uma<br />
imagem reconhecível do país não precisa aparecer no palco <strong>para</strong> que as<br />
“nossas coisas” sejam problematizadas. Entretanto, quando trabalhamos<br />
com temas próprios à nossa situação de periferia do capitalismo, vamos