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Seminário de Dramaturgia ::<br />
Ela cria ansiedade, uma necessidade de reflexão. Então, a impressão que<br />
uma peça causa em você pode ser totalmente diferente da que causa no<br />
outro. As peças que conseguem deixar que o espectador complete a obra<br />
são, pra mim, as mais interessantes, as não unânimes, que todo mundo<br />
gosta. O Nélson Rodrigues costumava dizer que a unanimidade é burra.<br />
De certa forma, eu concordo com ele porque adoro peças polêmicas, adoro<br />
filmes que provocam reações e opiniões diametralmente opostas porque a<br />
arte é uma provocação, não é uma afirmação. A questão da socialização<br />
da arte, do acesso ao teatro agonia a todos nós. Vou contar um episódio<br />
que eu vivi na semana passada. Estou fazendo uma peça infantil que está<br />
passeando pelos CEUs. Na unidade do Campo Limpo, levamos Assembléia<br />
dos Bichos, uma peça bastante simples. Eu confesso que nunca tinha<br />
entrado num CEU e fiquei extremamente impressionada com a estrutura<br />
física do centro. É um teatro maravilhoso, um equipamento maravilhoso,<br />
com técnicos altamente capacitados. Até que entraram as crianças e os<br />
professores. Aliás, a peça é recomendada <strong>para</strong> crianças de cinco anos,<br />
mas até as de três anos respondem superbem. Só que tinha crianças a<br />
partir de nove meses! Era um chororô! Quando deu o blecaute inicial,<br />
foi uma choradeira maluca. Explicamos que era preciso silêncio, e uma<br />
coordenadora pediu um pouco de luz na platéia porque o escuro assustava<br />
os pequenos. Começou um tititi, um entra-e-sai de alunos e professoras<br />
no meio da peça que me fez pensar no dinheiro gasto no projeto de levar<br />
teatro <strong>para</strong> quem nunca viu. Parece que só querem números, pois são<br />
várias peças que vão <strong>para</strong> os CEUs, mas não existe um planejamento, uma<br />
conversa com os professores nem orientação didática <strong>para</strong> se trabalhar<br />
o conteúdo. Foi o caos! Foi superdifícil fazer a apresentação. A gente<br />
saiu frustrada, não fazendo o melhor por falta de interação, por falta de<br />
comunicação.<br />
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Agora vou contar uma história totalmente inversa. Fui visitar um<br />
lugar chamado Coperifa. É um sarau na zona sul, no Boteco do Zezão,<br />
onde havia tanto senhores de mais de 60 anos, como crianças de sete<br />
anos, jovens com muito talento, às vezes uma tiazinha que mal sabia ler.<br />
Mas o respeito era total. Eu não só fiquei surpresa como impressionada, e<br />
de certa forma invejei-os. É um projeto que eles desenvolvem há quatro<br />
anos, todas as quartas-feiras, <strong>para</strong> a comunidade. Tem gente que passa