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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

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superficial de seus aspectos fundamentais. Isso ocorreu no momento em<br />

que, após muitas entrevistas e leituras, fomos percebendo o quanto o<br />

trabalho precarizado assume novas feições <strong>para</strong> além da dialética patrãoempregado.<br />

Começamos de fato a gerar bons improvisos quando notamos<br />

que o capitalismo já não pratica a extração de mais-valia segundo a<br />

mesma configuração ideológica do passado, na medida em que as relações<br />

de trabalho, após a revolução tecnológica dos anos 80, multiplicaram suas<br />

feições violentas e internalizaram na subjetividade diversos conflitos. A<br />

peça começou a aparecer quando o campo temático (na verdade, uma<br />

série de dúvidas comuns) se delineou: como o mundo do trabalho, que<br />

antes organizava agrupamentos e contestação, hoje, assim precarizado,<br />

favorece a desorganização coletiva? Por que os indivíduos, tragicamente,<br />

se culpabilizam pelo seu destino diante de instituições desmaterializadas?<br />

O enquadramento estético gerado pelas perguntas corretas <strong>para</strong> cada<br />

pesquisa artística é que faz a diferença. Como o ator vai trabalhar isso<br />

na sala de ensaio? É questão da qual se possa rir? Como um dramaturgo<br />

vai se relacionar com essas indagações? Nossa geração de escritores<br />

de teatro terá que lidar com problemas nem imaginados pela tradição<br />

dramática ocidental. Nem mesmo a tradição formal que considero a mais<br />

avançada, o teatro épico-dialético de Brecht, é suficiente <strong>para</strong> representar<br />

a sociedade atual. O trabalho dos melhores dramaturgos modernistas não<br />

é suficiente <strong>para</strong> o estágio de deterioração da vida em que estamos, mas<br />

pode nos ensinar grandes caminhos de pesquisa. Se eu quiser representar<br />

a vida de hoje como movimento, não como estado, de um modo ativador,<br />

passível de transformação, lidando ao mesmo tempo com a reificação<br />

dissolvente e com a recusa ao fatalismo, nas condições do capitalismo<br />

em sua periferia, terei que considerar o legado formal do passado, de<br />

artistas como Brecht, Buenaventura e tantos outros, e estudar as formas<br />

da dominação hoje, inclusive aquelas que se manifestam no plano da<br />

ideologia ao qual pertencem as representações. O processo colaborativo é<br />

um lugar experimental de contato com a força do grupo em sua capacidade<br />

de reinventar sua situação. É essa sua possibilidade útil.<br />

Quando o dramaturgo que se insere num processo colaborativo<br />

começa a repensar sua função, quando compreende que pode interferir<br />

na estratégia de geração de material tanto quanto no combate formal

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