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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

capital e o interior, minha família é toda do interior, da Zona da Mata.<br />

86<br />

Assim, vivi num fluxo constante entre o litoral, com todas as suas<br />

manifestações, e as que aconteciam no interior do estado. Eu estava nesse<br />

trânsito e vim <strong>para</strong> São <strong>Paulo</strong>. Fiz Unicamp. O que aconteceu na Unicamp<br />

foi uma puxada de tapete, num certo sentido porque, quando a gente<br />

concluiu o curso, em 95, a gente se defrontou com dois Joões: um, o João<br />

Guimarães Rosa; o outro, o João das Neves que, <strong>para</strong> quem não conhece, é<br />

um diretor e um autor brilhante, que fez um movimento inverso, teve uma<br />

trajetória fantástica no Rio e em São <strong>Paulo</strong> e foi morar em Belo Horizonte,<br />

onde trabalhou com um teatro de grupo; fez projetos no Acre, em Campinas.<br />

Ele nos apresentou uma possibilidade de adaptação que ele fez do livro<br />

Primeiras Histórias, do Guimarães Rosa, e nesse momento, comecei a fazer<br />

um movimento de volta porque, <strong>para</strong> lidar com aquele material como ator,<br />

como ele me pedia, eu tinha que acessar toda a memória – outra palavra<br />

que também é muito importante – que estava lá atrás, na minha fuga, na<br />

fuga daquele universo que me circundava, que era o dessa cultura popular<br />

presente ou desse teatro regional. Eu tinha que voltar a esse lugar <strong>para</strong><br />

responder àquilo que ele me pedia. Foi aí que comecei a reavaliar que<br />

muitas matrizes com as quais eu trabalhava como ator e que eu queria<br />

trabalhar como dramaturgo vinham dessa primeira memória, desse registro<br />

inicial, que era do cavalo-marinho, do brincante, do contador de histórias<br />

na beira da calçada da casa da minha avó, enfim, todo esse material que<br />

eu tive que abraçar e que depois se tornou muito poderoso e presente<br />

<strong>para</strong> mim. Eu até brinquei com uma expressão do Artaud, “a nostalgia das<br />

origens”, que ele usa n’O Teatro e seu Duplo. Acho que me deu aquele banzo<br />

positivo, a nostalgia. Obedeci a esse fluxo, e é onde me encontro hoje.<br />

A palavra nostalgia, às vezes, parece meio perigosa porque ela tem uma<br />

noção de poço estagnado e saudosista. Na verdade, tem uma prima-irmã<br />

chamada memória, palavra que parece ter um rio mais caudaloso, mais<br />

potente. Até porque eu acho que a memória começa a lidar com algumas<br />

questões de identidade, de gênese, de mito de formação. Memória parece<br />

uma palavra mais bem aceita, e nostalgia parece uma palavra mais frágil,<br />

meio romântica ou delicada demais. Que seja memória, então. Ela mobilizou<br />

a minha vontade de trabalhar especificamente estes dois projetos, Agreste<br />

e Assombrações do Recife Velho.

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