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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />
gente se debata, que a gente queira fazer uma obra conscientizadora,<br />
revolucionária, contemporânea, moderna, que entre em contato com as<br />
pessoas, a gente está trabalhando dentro de um circuito muito restrito<br />
de conceitos. Se dos valores que estão sendo colocados for excluída a<br />
memória, como é que a gente faz? Com que imaginário vamos trabalhar? E<br />
aí é uma coisa que já foi derrogada também, o imaginário. Qual imaginário?<br />
O imaginário globalizado? Eu não saberia dizer, mas seguramente seja o<br />
imaginário de Ipanema que nos chega dessa maneira. Esse é o grande<br />
imaginário? Ou o imaginário de São <strong>Paulo</strong> ou o do Rio de Janeiro, no<br />
mínimo, porque talvez sejam as duas capitais que, de acordo com a<br />
modernidade, com a globalização, com todos esses conceitos, estejam<br />
mais próximas desse ápice da civilização, que é a globalização. Onde<br />
é que a gente vai trabalhar? Onde é que a gente vai operar, se desses<br />
conceitos – globalização, universalismo, regionalismo – o valor mais alto e<br />
mais positivo é a globalização? Como é que a gente opera culturalmente<br />
sem memória e sem imaginário? No entanto, é o que está acontecendo, é<br />
o que está imposto.<br />
94<br />
Tem uma coisa que me parece fundamental: pelo menos agora estou<br />
entendendo a raiz da minha perplexidade com relação a essas palavras, a<br />
esses conceitos porque mais do que esclarecer, mais do que manifestar,<br />
eles omitem. Um conceito desses pode ter uma lógica, pode ter uma<br />
justificativa, até histórica, muito bem desenvolvida, mas elimina um<br />
elemento fundamental presente na ética, que são os valores. Que valores<br />
nos traz a globalização? Que diabos de valores são esses? Que diabos de<br />
valores nos traz o regionalismo? Quando a gente fala de regionalismo,<br />
em geral a gente fala de tradição, que se confunde com tradicionalismo,<br />
com passadismo, com nostalgia, com esse tipo de coisa toda. A questão<br />
primordial é que a gente opere, e <strong>para</strong> isso é preciso reflexão. E o que<br />
eu gostaria de jogar <strong>para</strong> reflexão é o conceito de valor. Quando a gente<br />
coloca o termo valor como referência fundamental, talvez se possa discutir<br />
identidade, globalização, universalismo e regionalismo. Se a globalização<br />
é colocada como um ápice a que chegou a cultura e a civilização, que<br />
valores estão por trás dessa globalização que tentam nos impor? Aqui<br />
entra um pouco da minha ligação com a cultura popular e com a mitologia<br />
no sentido de que a globalização não expressa valores tão contemporâneos