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Seminário de Dramaturgia ::<br />
histórias maravilhosas, que criaram vida própria e uma força enorme. Tanto<br />
que a gente os considerava pessoas da nossa família; eles queriam se dizer<br />
através daquelas pessoas. Muitas vezes, o que o ator mais quer é viver a<br />
vida sob um outro ponto de vista, quer viver outras vidas na mesma vida.<br />
Assim, tínhamos personagens incríveis, mas não tínhamos história. E foi<br />
a grande questão da peça: como contar uma história em que coubessem<br />
todos esses personagens se não eram oriundos da mesma mitologia? E<br />
aí surgiu o grande desafio porque eu não queria excluir nenhum deles<br />
e, ao mesmo tempo, queria contar uma história sobre o purgatório, um<br />
lugar que abarcasse todas as histórias daquelas vidas que tinham sido<br />
inventadas. A pesquisa começou dando linha <strong>para</strong> que os personagens<br />
existissem cada vez mais, e ao mesmo tempo percebendo quais eram os<br />
pensamentos compulsivos, viciados, ou seja, onde era o purgatório de<br />
cada um deles.<br />
Sou apaixonada pela mitologia budista. A visão de vida que ela tem<br />
me fascina cada vez mais, pois ela serve <strong>para</strong> todos nós. Eu vou contar<br />
uma parábola. Os atores queriam viver personagens intensos, com histórias<br />
intensas. A maioria do elenco mora na periferia, e me contaram muitas<br />
histórias, mas eu não queria contar só “a história da periferia”, e sim, uma<br />
história sobre a periferia interna, sobre como não nos colocamos no centro<br />
da nossa vida, mas espremidos num canto, enquanto os pensamentos que<br />
herdamos passam a ditar as diretrizes e os valores da nossa existência.<br />
Eu queria fazer dessa história uma parábola sobre como nós estamos<br />
aprisionados pelos próprios pensamentos, e mais do que isso: como a<br />
gente nem se dá conta. Minhas limitações eu projeto no outro. É ele que<br />
me impede de voar. Não sou eu que estou irritado; as pessoas é que não<br />
me compreendem e me irritam. Nunca me vejo como uma pessoa de pavio<br />
curto.<br />
25<br />
Um ditado oriental diz: Cuidado com o seu pensamento que ele pode<br />
virar suas falas. Cuidado com as suas falas porque elas podem virar suas<br />
atitudes. As suas atitudes podem virar seu caráter. E o seu caráter pode virar<br />
o seu destino. Cada personagem do Banquete dos Homens representava <strong>para</strong><br />
mim um veneno da mente, uma espécie de obsessão. Tinha o pavio curto,<br />
que com tudo estourava... se ele respondesse em vez de reagir, mas estava