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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />
manteve o sentido inicial que você desejava. Como a fala é subjetiva e, às<br />
vezes, falsa, o silêncio transmite muito mais.<br />
42<br />
Flávia Pucci – Falando de Histórias <strong>para</strong> Ninar Gente Grande, foi o<br />
maior desafio do mundo, principalmente colocar palavras. Nesse trabalho<br />
mais recente, também foi muito difícil chegar ao texto final. É incrível<br />
como a gente duvida de que o outro vá entender o que a gente está<br />
querendo passar. E aí, a gente excede em palavras na tentativa de explicar<br />
uma coisa que está clara. O grande desafio é não explicar o que está<br />
dentro de você e do próprio ator através de palavras porque a cena se<br />
enfraquece. Para apontar as falhas, é necessário um dramaturgo alheio ao<br />
texto <strong>para</strong> enxugar, deixar apenas o essencial. Como o grupo tagarelava<br />
demais, eu disse: Em vez de falar, vai e invade o espaço do outro, o que<br />
acabou sendo a estética do trabalho, que é muito invasivo. Uma pessoa<br />
está falando com a outra, eu estou passando batom, ele está falando<br />
comigo e tira o batom da minha mão pra me calar. A maneira que a<br />
gente descobriu pra falar menos nessa segunda peça foi através de uma<br />
coisa meio invasivo-corporal. De repente, um invadia o corpo do outro<br />
como mecanismo de defesa <strong>para</strong> que a discussão acabasse porque no<br />
teatro não cabe discussão de bar; começou a discussão de bar, acabou o<br />
teatro. A primeira peça foi muito lacônica. Dos catorze personagens, só<br />
dois falavam. Foi a solução que a gente encontrou <strong>para</strong> não aporrinhar o<br />
público nem fazê-lo se sentir subestimado, pois ele adora acabar de fazer<br />
o que o ator apenas sugeriu. Se o público não se sente participante, você<br />
perdeu o jogo. Até agora a gente está nesse processo de limpa-fala sem<br />
empobrecer a fala. Esse espetáculo que está <strong>aqui</strong>, inclusive, tem uma<br />
estética de trem fantasma da periferia, com sustos. Tudo <strong>para</strong> evitar muita<br />
explicação e verborragia barroca.<br />
Rubens Rewald – O Billy Wilder, talvez o maior roteirista do cinema<br />
clássico americano, tem uma frase perfeita que encerra a questão. Eu<br />
sempre coloco <strong>para</strong> os meus alunos quando discuto roteiro, dramaturgia:<br />
Deixe o espectador somar dois mais dois. Ele lhe será eternamente grato.<br />
Alguém – É isso que o espectador espera. Mas também penso na fala<br />
em relação à espontaneidade, à dificuldade que as pessoas têm de falar, de