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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

vontade de descobrir o ‘ser brasileiro’. Ele citou o Arena e o Oficina, a<br />

questão formal <strong>para</strong> descobrir como é que eu dou conta desse brasileiro em<br />

cena. Os quinhentos anos foram um motor, criou uma curiosidade coletiva<br />

de fazer o caminho de volta mesmo. Muitos espetáculos que a gente vê<br />

tentam responder a essa pergunta: A Comédia do Trabalho, Os Sertões,<br />

Borandá, Assombrações..., cada um com seu recorte, mas todos tentando<br />

responder ou, pelo menos, levantar uma possibilidade de resposta.<br />

Flávio Aguiar – Para concluir minha participação, vou contar mais<br />

uma historinha que aborda simbolicamente o universo das questões<br />

colocadas <strong>aqui</strong>. Quando os navegadores portugueses chegaram à Bahia,<br />

houve quatro grandes rituais de fundação daquele encontro no Brasil.<br />

O último, o que nos ficou mais de perto, foi aquele em que o escrivão<br />

enviou uma carta ao rei. Não foi <strong>para</strong> qualquer pessoa. Foi um ritual<br />

que ele cumpriu dando conta do achamento, ou descobrimento, que eles<br />

tinham feito. O interessante é que, ao terminar a carta, ele pede um<br />

favor, não me lembro se <strong>para</strong> o cunhado ou o genro dele, degredado<br />

<strong>para</strong> a Ilha de São Tomé. Ele pede que o rei não só permita que ele<br />

volte a Portugal, mas também um emprego. Ou seja, já o Caminha havia<br />

instituído o pistolão no Brasil. Foi o primeiro ritual, o mundo do favor, da<br />

cordialidade. Caminha teve um destino trágico, nem voltou <strong>para</strong> Portugal,<br />

pois morreu na Índia, no fim de 1500. O outro ritual, retrocedendo, foi<br />

que, lá pelas tantas, o Cabral resolveu receber os povos estranhíssimos<br />

que eles estavam vendo, e que eles não sabiam quem eram, na caravela.<br />

Ele montou um trono, assentou-se e mandou, pediu, instou que os índios<br />

viessem <strong>para</strong> a apresentação do Estado português, junto com as quinas,<br />

aquelas coisas que eles traziam, os marcos, etc. Pois bem, o que os índios<br />

fizeram? Subiram na caravela. Segundo o Caminha, se impressionaram<br />

muito com as galinhas, que não conheciam; deitaram ao lado do trono e<br />

dormiram. O segundo, nessa ordem, já foi mais barra-pesada: a realização<br />

da primeira missa no Brasil, que ficou celebrizada no quadro. Eu digo<br />

que é pesado porque introduziu um imaginário que não existia nestas<br />

terras. Não estou discutindo, do ponto de vista religioso, se é certo ou<br />

se é errado, mas foi introduzido o inferno, o céu, o <strong>para</strong>íso, e todas as<br />

culturas locais foram reduzidas a passado da humanidade, a partir de<br />

então condenadas à extinção. O primeiro ritual é o que mais me interessa.

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