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:: Depoimentos - IDART 30 Anos<br />

coisas se juntam, força-se o espectador a ficar acordado não só <strong>para</strong> o que<br />

ele está vendo, mas também <strong>para</strong> a natureza do sistema de representação<br />

que as diferentes artes formularam.<br />

Outro aspecto que eu acho importante pensar sobre a idéia do híbrido,<br />

e no caso, principalmente, das formas de teatro híbridas que a gente<br />

vê contemporaneamente, como o teatro físico, o teatro visual, o teatro<br />

de movimento – tantos termos que vão descrever as fusões possíveis<br />

entre o teatro, a dança, a mímica, a performance, o circo – é que esses<br />

espetáculos não obrigatoriamente abrem mão da textualidade dramática.<br />

Temos o vício de pensar que, porque é dramaturgia híbrida, a gente pode<br />

se livrar de muitos problemas da organização dos sentidos, atribuição<br />

geralmente designada <strong>para</strong> o texto dramático. Existem, sim, muitas formas<br />

de construção e de utilização do texto dramático nesses tipos de espetáculo<br />

de fusão de linguagens. Assisti, no meio do ano, a um espetáculo híbrido,<br />

executado por alunos de quarto ano de uma faculdade de teatro de Belo<br />

Horizonte. A proposta era fazer um espetáculo que pesquisasse exatamente<br />

essa possibilidade de fusão do teatro com as outras artes. Tinha de tudo:<br />

vídeo, trechos de dramaturgia inspirados no Nélson Rodrigues, no Arnaldo<br />

Jabor, relação direta com o espectador, teatro-dança, enfim, tinha tudo<br />

o que um jovem artista acharia sedutor usar na possibilidade de fusão. A<br />

gente saiu do espetáculo com uma piada, que eu vou contar porque abre<br />

a questão que eu queria comentar (os problemas da dramaturgia híbrida).<br />

Dizíamos que duas coisas faziam muito mal ao teatro contemporâneo. Uma<br />

era o Nélson Rodrigues, e a outra, o teatro-dança, e queríamos descobrir<br />

qual fazia mais mal <strong>para</strong> o teatro. É uma piada, claro, porque a gente sabe<br />

da importância tanto do Nélson Rodrigues quanto do teatro-dança, mas<br />

a brincadeira falava exatamente sobre a dificuldade que é lidar com os<br />

dois pólos que aparecem nos espetáculos contemporâneos: o pólo textual<br />

e o pólo “visual”. Estou falando visual entre aspas porque não quero dizer<br />

que não exista construção de textualidade a partir da movimentação do<br />

corpo, seja do movimento translação ou da relação entre pessoas em cena;<br />

quero dizer que essa tensão, já característica do fenômeno teatral, entre a<br />

materialidade do real e o espaço ficcional, aberto pelo espetáculo teatral,<br />

é exacerbada frente às possibilidades que o teatro contemporâneo passa a<br />

oferecer <strong>para</strong> o espectador e <strong>para</strong> seus criadores. Por isso a piada – o que

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