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Seminário de Dramaturgia ::<br />
bastante representativo do que eu acredito ser as coisas que o meu grupo<br />
faz, da questão política e ao mesmo tempo do trabalho do artista de<br />
teatro. É o prefácio do livro do Dario Fo, que fala do ator. Vou encerrar<br />
minha primeira fala lendo o texto escrito pelo querido Gianni Ratto, que,<br />
apesar de italiano, é um grande brasileiro, uma pessoa extremamente<br />
importante <strong>para</strong> o teatro brasileiro, não só como agente, como diretor e<br />
encenador, mas também como cabeça, como pensador de um fazer teatral<br />
no país. Diz o seguinte:<br />
Nunca ri tanto lendo um texto tão sério. Melhor, nunca li um texto<br />
tão sério, escrito com tanto humor. Dario não usa meias-medidas.<br />
Duro, escrachado, mordaz, irônico, satírico, galhofeiro, inconformado,<br />
escatológico, crítico impiedoso, todavia profundamente humano, tem<br />
como alvo tudo o que representa a autoridade opressora em seus aspectos<br />
negativos, camuflados por paternalismos que cheiram a incenso e pólvora.<br />
Um manifesto político? Não. Um tratado de técnica teatral fundamentado<br />
na experiência vivida e aperfeiçoada no trabalho, na criatividade, e, fato<br />
fundamental, na percepção clara de que o ator pertence à polis e dela não<br />
pode se divorciar. Dario Fo é parente contemporâneo, de sangue novo, de<br />
uma corte de atores-personagens destemidos e perseguidos. Permeiam em<br />
seu livro a risada e o espanto divertido, com o qual constata as misérias<br />
do mundo, a canalhice dos poderosos, a ingenuidade dos explorados,<br />
o embuste da mídia, as camuflagens místicas, e assim por diante. A<br />
gargalhada de Dario pontua, como o baixo elétrico do rock, a sarabanda<br />
dos tipos e situações que exemplificam no seu livro. O Manual Mínimo do<br />
Ator, compêndio técnico, estético, ético, histórico, é a meu ver, um texto<br />
fundamental, não somente <strong>para</strong> os que assinam e <strong>para</strong> os que querem se<br />
aproximar do teatro, ou de alguma forma agir nele, mas também <strong>para</strong> os que<br />
atuam num âmbito maior, em que a cultura não pode ficar preguiçosamente<br />
obsoleta. A leitura objetiva e aprofundada do que sabemos estar por trás<br />
dos fatos permite recriar, hoje, de maneira grotesca, irônica ou trágica,<br />
o que a informação imediata nunca poderá nos dar. É nosso dever, ou se<br />
preferirem, nossa missão profissional como autores, diretores e pessoas de<br />
teatro, conseguir falar da realidade rompendo o modelo estandardizado,<br />
por meio da fantasia, do sarcasmo, do uso cínico da razão. Assim, iremos<br />
contrariar o programa e a estratégia que o poder procura levar adiante, ou<br />
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