35Com relação às palavras, Bakhtin (1995) comenta que esta é vista como signoi<strong>de</strong>ológico por excelência e estudada como processo e não simplesmente como produto, comoinstrumento ou como mercadoria. Para o referido autor, “a palavra é a arena on<strong>de</strong> seconfrontam valores sociais contraditórios; os conflitos da língua refletem os conflitos <strong>de</strong>classe no interior do mesmo sistema” (BAKHTIN, 1995, p. 46). Cada enunciado proferido éconstituído <strong>de</strong> vozes, <strong>de</strong> lugares variados, ou várias fontes (polifonia), por sua multiplicida<strong>de</strong>significativa ou polissemia, sua abertura e incompletu<strong>de</strong>, o que significa que um texto semprese vincula a outros textos <strong>de</strong> várias origens; trata-se da chamada intertextualida<strong>de</strong>. Tudo issoremete a um princípio que ele chamou <strong>de</strong> dialógico.Neste sentido, po<strong>de</strong>-se afirmar que, para Bakhtin (1995), longe <strong>de</strong> ser umfenômeno monológico, a língua, em suas linguagens, se institui como fenômeno social queacontece através <strong>de</strong> interação verbal, em seus enunciados e enunciações, como um fenômenosocial, que tem na palavra sua essência. Logo, como constituintes da interação verbal, osenunciados e as enunciações são acontecimentos da linguagem. Portanto, os processos <strong>de</strong>constituição dos enunciados, bem como os sentidos dos enunciados nascem do movimento daprópria enunciação, <strong>de</strong> tudo o que compõe o quadro enunciativo.Assim sendo, <strong>de</strong>stacar o dialogismo é pressupor um “princípio”, uma“proprieda<strong>de</strong> polivalente”, que constitui as noções <strong>de</strong>senvolvidas e que se instaura como umaconstante comunicação com o outro, cujo processo não comporta observações estanques.Logo, por esse percurso, não se po<strong>de</strong>ria conceber um fim absoluto ou uma apreensão<strong>de</strong>finitiva sobre os variados fenômenos acontecidos na socieda<strong>de</strong>. Segundo Bakhtin (1997), oprincípio dialógico traz em seu escopo uma abordagem do “não-acabado” e do “vir-a-ser”,evi<strong>de</strong>nciando a preservação da heterogeneida<strong>de</strong>, da diferença, da alterida<strong>de</strong>.Cabe ressaltar que, nas particularida<strong>de</strong>s da linguagem, a partir do enfoquedialógico, “as relações dialógicas são absolutamente impossíveis sem relação lógica econcreto-semântica, mas são irredutíveis a estas e têm especificida<strong>de</strong> própria” (BAKHTIN,1995, p. 184).Neste sentido, o estudo da linguagem como relação lógica necessita <strong>de</strong> abordagemenunciativa e é irredutível à logicida<strong>de</strong>. Destaca-se assim, sob esse enfoque, que as relaçõesdialógicas são apreendidas discursivamente, na língua enquanto fenômeno integral concreto,sem que sejam <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>radas as relações lógicas. Logo, a tensão entre relações dialógicas elógicas indica que a linguagem somente tem vida na comunicação dialógica, comunicação <strong>de</strong>sentidos, que constitui o seu campo <strong>de</strong> existência.
36O princípio dialógico da linguagem se constitui por uma abordagem social que lheé específica. Assim sendo, analisar o dialogismo é, por um lado, <strong>de</strong>scartar qualquerpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> limitação <strong>de</strong> sentidos, e, por outro, preservar os ecos <strong>de</strong> outros ditos, já-ditose/ou não-ditos na linguagem.Sobre os sentidos, faz-se oportuno consi<strong>de</strong>rar que este, a partir da abordagemdialógica, projeta-se como efeitos, sendo assim, irredutíveis a uma só possibilida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong>em <strong>de</strong>terminados contextos enunciativos haver sentidos predominantes. Com isso, os efeitos<strong>de</strong> sentidos existem a partir <strong>de</strong> construções discursivas, das quais o sujeito se constitui, <strong>de</strong>modo dinâmico, com a instituição histórico-social. Logo, o sujeito e os sentidos constroem- sediscursivamente nas interações verbais, na relação com o outro, em uma <strong>de</strong>terminada esfera<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> humana. Portanto, para Bakhtin (1995), no trabalho da linguagem é necessárioque se produzam sentidos, os quais estão sempre atrelados a uma moldura social e a umaaudiência.Outro aspecto relevante, no âmbito <strong>de</strong>stas reflexões, seria o pluralismolinguístico, também <strong>de</strong>nominado e heteroglossia, <strong>de</strong> polifonia e <strong>de</strong> plurilinguismo, emespecial o plurilinguismo dialogizado. Segundo Bakhtin, esse se configura no “verda<strong>de</strong>iromeio da enunciação” (BAKHTIN, 1995, p. 82). Aproxima-se, assim, da plurivocida<strong>de</strong>, isto é,da tessitura <strong>de</strong> vozes sociais que constitui o espaço enunciativo-discursivo.O plurilinguismo na teoria dialógica do discurso, ao contrário <strong>de</strong> abordagensconservadoras, não se restringe à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “línguas nacionais”, mas sim preserva adiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes discursivas–posições que constituem o discurso – como característicafundamental para a concepção <strong>de</strong> linguagem. É o próprio dialogismo incorporado no discurso,a dinâmica entre vozes sociais engendradas em um espaço inter-relacional. Neste sentido, essapeculiarida<strong>de</strong> da linguagem <strong>de</strong> ser “plural” rompe com a hegemonia <strong>de</strong> qualquer “linguagemúnica da verda<strong>de</strong>”.Tal concepção enseja tanto as percepções como as investigações no âmbito dalinguagem, na medida em que é uma dimensão que rejeita a “ossificação e a estagnação dopensamento” (CLARK; HOLQUIST, 1998 p. 49) a uma só, como a <strong>de</strong> uma “língua padrão”,“culta”, sem consi<strong>de</strong>rar as varieda<strong>de</strong>s.Po<strong>de</strong>-se afirmar, portanto, que todo contexto torna-se importante à constituição dalinguagem, forma o que se chama <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> produção, ou seja, condições <strong>de</strong>possibilida<strong>de</strong>s para a ocorrência da linguagem, quais sejam: os valores, as crenças, e assituações concretas <strong>de</strong> intercâmbios que compõem quadros próximos para a realização daprática da linguagem, envolvendo pessoas, temas e circunstâncias <strong>de</strong>finíveis. Esses sentidos
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